A Felino é uma empresa de Valongo, especializada na área da metalomecânica, que há mais de 80 anos fornece padarias e pastelarias por todo o país, não de matérias-primas, mas de todo o tipo de máquinas para a produção das mais diversas iguarias.
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A origem da Felino - Fundição e Construções Mecânicas S.A remonta a 1936 e nasceu, em Ermesinde, pelas mãos dos irmãos Laurindo e José Maria Ferreira Lino. "Esta empresa tem 82 anos e foi fundada pelo meu avô, que pertencia a uma família de nove irmãos, e surge de uma história até curiosa. Ele era um comerciante nato, dizia que vendia tudo e fazia parte da vida dele no Porto. Um dos irmãos era um engenhocas e tinha vocação para desenvolver equipamentos e um outro tinha uma padaria ao lado dos terrenos do meu avô", começa por explicar Manuel Braga Lino, presidente do conselho de administração, continuando: "Esse irmão padeiro queixava-se que não conseguia pessoal de qualidade para trabalhar e propôs ao meu avô se não queria experimentar fazer uma máquina. O outro irmão, o José Maria, quando ouviu isso nunca mais largou a ideia e construiu a máquina e assim começou o negócio da Felino na área das máquinas de padaria e pastelaria".
Inicialmente a fábrica chamava-se "Ferreira Lino & Irmão" e era uma pequena exploração de fundição e serralharia, passando, mais tarde, a dedicar-se à produção de máquinas para a indústria da panificação e assim seguiu durante muitos anos. Contudo, para se fazer as peças em metal para as máquinas havia sempre algumas sobras e "a veia comercial" de Laurindo levou-o a encontrar uma forma de vencer esses restos. "Isso originou o crescimento da atividade da fundição de peças em ferro. Tínhamos os tornos, as fresadoras, mas havia sempre alguma capacidade e isso deu origem, a início de uma forma mais ou menos incipiente, a estes dois negócios", referiu o neto do fundação e um dos atuais proprietários.
"Recentemente criamos uma organização interna perfeitamente estanque e funcionamos como se fossemos duas empresas: uma dedicada à área alimentar, em que vendemos as nossas máquinas que fazemos de raiz, bem como outros equipamentos que representamos; e outra dedicada a fazer peças para outros fabricantes dos mais diversos equipamentos, como tratores, compressores, equipamentos de frio, mobiliário, etc", avançou Manuel Braga Lino, revelando que no que diz respeito à produção de máquinas para a industria da panificação, uma das logomarcas do concelho de Valongo, "o principal foco da empresa é desenvolver equipamentos para a preparação das massas".
"Na vertente de pastelaria temos as batedeiras, para bater os cremes e as massas mais macias, e o laminador, para fazer a massa folhada. Na vertente de padaria, fazemos amassadeiras de vários tipos e capacidades, umas mais lentas mas com massas de mais alta qualidade, que são as amassadeiras de garfo, e outras mais rápidas e produtivos, mas por esse fator causam alguns problemas na massa devido ao aquecimento. Temos ainda divisoras e raladores de pão. Depois temos também uma panóplia de equipamentos acessórios, como carros de transporte de equipamentos, elevadores para extrair a massa das máquinas e colocá-las nas divisoras", complementou o administrador.
Internacionalização na década de 80
Voltando atrás no tempo, na década de 70, já nas mãos do pai do atual presidente, a segunda geração da família, num espaço contíguo à fábrica existente, é construída uma nova unidade destinada à montagem e acabamento de máquinas para padaria e pastelaria. A partir de 1980, é ampliada a fundição de alumínio e dá-se início ao processo de internacionalização.
"Quando começámos a exportar máquinas foi necessário criar uma marca. Surgiu, entretanto, o nome Felino, pois não se queria manter o nome da família ligado à empresa e foi uma junção de Ferreira e Lino. O meu pai contratou uma agência de publicidade para desenhar o símbolo e sugeriu que se fizesse o nome com a silhueta de um felino, um gato ou leopardo, daí surgiu o nosso logótipo, que perdura e tenho lutado bastante para que não se deixe alterar nem a forma, nem a cor", conta o neto do fundador.
Hoje em dia, a empresa tem 120 funcionários e conta com duas unidades industriais: uma em Ermesinde, nos mesmos terrenos onde tudo começou, com cerca de 15 mil metros quadrados, onde se encontra a fábrica de produção das máquinas para a panificação e a fundição de alumínio; e outra em Sobrado, com 30 mil metros quadrados, inaugurada em 1994 e destinada à fundição de ferro, que labora em dois turnos, das 8 às 2 horas da manhã.
Forte presença na Europa
Todos estes investimentos tiveram o devido retorno com a marca a expandir-se por mais de 40 países. "As peças técnicas exportamos, essencialmente, para os países da União Europeia e também Suíça e Noruega. No caso das máquinas de padaria e pastelaria o nosso maior mercado é o português, pois, para além das máquinas, vendemos outros equipamentos como os fornos, as câmaras de frio, bancadas, mesas, cadeiras e até as máquinas registadoras. Fornecemos tudo nessa área e por isso o mercado português tem um peso muito grande. Aliás, as grandes companhias de distribuição em Portugal são clientes muito importantes e que nos mantêm muito ocupados", salienta Manuel Braga Lino, frisando que a nível da exportação o maior mercado é o francês.
Com mais de 80 anos de existência, pode-se dizer que o segredo da longevidade da Felino está na capacidade em saber equilibrar os pesos dos dois negócios. "O tipo de clientes é completamente diferente. Enquanto um vai usar o nosso produto como utilizador final, o outro é alguém que vai utilizar o nosso produto para fazer os produtos deles. Isso cria-nos algumas dificuldades, porque as estratégias que se usam num negócio não podem ser usadas no outro. Mas, ter duas áreas tem-nos ajudado de algum modo nos tempos de crise e de maiores dificuldades, porque se um está pior, o outro vai ajudando. Nesse aspeto tem sido positivo", finaliza o administrador.