A fábrica Tecnarea, em Gondomar, fechou sem aviso, deixando cerca de 30 pessoas sem trabalho. Os funcionários têm salários em atraso e foram surpreendidos com o anúncio do encerramento da empresa de construção, mobiliário e decoração, um mês depois de terem sido mandados para casa. Ainda esta semana, e com o apoio do Sindicato da Construção, os operários vão preencher os processos para o fundo de desemprego.
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"Um capitão de um barco que abandonou os seus remadores" - é assim que os trabalhadores, reunidos na manhã de ontem, descrevem a atitude do administrador da empresa Tecnarea, localizada na Estrada D. Miguel. O JN tentou, sem êxito, contactar o empresário.
De acordo com Vítor Oliveira, trabalhador na firma desde os 12 anos, o patrão mandou os funcionários para casa no fim de maio. Segundo os operários, justificou essa decisão com a implementação de "um plano de recuperação da empresa". No entanto, dia 22 de junho, foram chamados por um advogado às instalações, tendo sido informados que a empresa, afinal, tinha fechado de vez. Nunca mais conseguiram contactar o patrão.
Jorge Santos, responsável pela monitorização das obras da Tecnarea, partilha com os restantes trabalhadores um sentimento de "injustiça" perante a "incompetência da entidade patronal".
"É de lamentar este fecho por diversas razões", adiantou Albano Ribeiro, presidente do Sindicato de Construção de Portugal, que apoia os cerca de 30 trabalhadores. "Além do setor ficar mais pobre, estes trabalhadores são a prioridade. São pessoas com mais de 50 anos que não fizeram outra coisa na vida", observou o presidente.
A situação da empresa, segundo o presidente do sindicato, podia ser "perfeitamente evitável". Com um processo de insolvência a decorrer e a garantia de que a empresa "não volta a abrir portas", Albano revela que o foco é "garantir a indemnização dos profissionais". "A função social de uma empresa é garantir o salário dos trabalhadores ao final do mês", sublinhou.
Apesar da falta de mão de obra no setor, Albano entende que, para estes trabalhadores, o recomeço não é fácil: "Apesar da sua qualidade, não têm nem idade, nem disposição para fazer deslocações tão grandes para continuarem a exercer no seu ramo".
Francisco Oliveira, de 64 anos, foi um dos operários que se juntaram para "bater o pé pelos direitos" que têm. "Estamos há um mês sem receber. Temos famílias e há dificuldades que só conseguimos ultrapassar com a ajuda de amigos e família", disse.
Sendo um dos mais antigos a exercer funções na empresa, Francisco confessa que para ele "não é tão assustador, porque a reforma está perto". Ainda assim, fez questão de estar solidário com os colegas.