Históricas do vinho do Porto conferem projeção mundial e ajudam a economia .
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No dia 25 de abril, a Cerâmica Valadares, hoje Arch Valadares, fez 100 anos. É uma marca que dá nome à vila e ao concelho. Deu a volta por cima, mas há outras empresas resilientes e centenárias em Gaia. O rumo dos negócios também faz a história do município. Incontornável é a referência ao segmento do vinho do Porto. As caves e os armazéns, na zona ribeirinha, recheiam os postais ilustrados da região. A sua fama é ancestral e passeia-se pelo Mundo inteiro, hoje ainda mais facilmente ampliada através dos meios digitais.
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Resistentes ao tempo, flexíveis às correntes de negócio, ao evoluírem para novas formas de captar receitas do turismo (à espera da retoma, devido à covid-19), nunca perderam de vista a internacionalização. A aliança entre o antigo e o moderno é um dos segredos do êxito. Se a pandemia travou presenças e visitas, as vendas online de bebidas ajudaram a atenuar as perdas.
Na Zona Histórica, amparadas pelo rio Douro, a ponte Luís I e a Ribeira portuense, as firmas vinícolas mantêm os seus centros logísticos. Em atividade, ultrapassam a dezena (ler lista ao lado) e o futuro augura a continuidade durante largos anos. Que o digam os consumidores do Centro da Europa e dos países nórdicos, entre outros, que continuam a apreciar o delicioso néctar produzido nas quintas durienses e depois religiosamente envelhecido nos cascos gaienses.
Arquivo e universidade
Antes do surto epidémico eclodir e condicionar os hábitos, à escala planetária, o grupo Sogevinus, que junta várias marcas, contabilizava meio milhão de visitantes por ano nas suas caves. Um número astronómico e que ilustra a importância do setor para a economia.
A Sogevinus detém a Kopke (datada de 1638 e considerada a mais antiga), a Burmester (1750), a Cálem (1859) e a Barros (1919). Faz parte do universo empresarial da instituição bancária espanhola Abanca, instalada no nosso país com uma rede de balcões. Poderá parecer estranho o casamento de um banco com uma sociedade de vinhos, mas diz-se que os responsáveis espanhóis apaixonaram-se pelo Douro e o planeado é continuar a investir. Para o próximo ano está prevista a construção de um hotel de cinco estrelas, na Rua de Serpa Pinto, em instalações que serviram de escritórios à Burmester e de armazéns à Kopke. Após obras, as caves da Burmester, junto à ponte Luís I, reabrem amanhã.
O património é valioso e está em curso a recolha de documentos, fotografias e demais elementos para constituir um arquivo. O trabalho é feito em parceria com o Centro de Investigação Transdisciplinar Cultura, Espaço e Memória (CITCEM) da Universidade do Porto. "O objetivo é reconstituir a história", assinala Gabriela Coutinho, diretora de Marketing.
Na Barros emergiu Manuel Moreira de Barros, uma figura que se tornou icónica. Nos anos 20 do século passado, começou como "moço de recados" e viria a tornar-se sócio. "Prosperou e foi influente", sublinha Gabriela Coutinho. "Presidiu ao Grémio de Exportadores de Vinho do Porto. Foi um dos fundadores do Colégio Nossa Senhora da Bonança e um dos mecenas do hospital de Gaia (não da estrutura do Monte da Virgem, mas da que subsiste no centro da cidade). O hospital até chegou a ser denominado por Comendador Manuel Moreira de Barros", adianta, para reforçar os laços do mundo empresarial ao quotidiano gaiense.