Em pouco mais de 20 minutos, formou-se uma longa fila de famílias, turistas, escolas e reformados na Ribeira do Porto para visitar o navio-escola Sagres. Só numa hora, foram 708 as pessoas que passaram por lá. A embarcação é o ponto alto das comemorações do Dia da Marinha, que culmina no domingo com um desfile militar na Alfândega do Porto.
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"Há sempre alguma coisa para a gente ver", ouve-se na Rua Mouzinho da Silveira, no Porto, entre quem tem como destino o navio-escola Sagres, atracado na Ribeira desde segunda-feira. Ao fundo da Rua de São João, a paisagem já é invadida pela Fragata D. Francisco de Almeida, criando um ambiente verdadeiramente náutico.
Por lá, estranha-se o vazio dos cais dos barcos turísticos. Mas de imediato se percebe porquê: as atenções estão viradas para o navio-escola Sagres, com uma extensa fila para visitar o navio e que só termina no Mercadinho da Ribeira. Entre professores a organizar os grupos de alunos, há famílias, turistas e reformados. Alguns, remaram mesmo contra a maré: deixaram Coimbra e os tão falados Coldplay e rumaram ao Porto. "Somos de Penela, Coimbra. Viemos de propósito visitar o navio. Vimos nas notícias e como nunca tínhamos visitado, ficámos cheios de curiosidade", sorri Isilda, com o neto de quatro anos pela mão. Chama-se Pedro Lucas e se lhe perguntamos se quer ser marinheiro, diz que sim num acenar de cabeça. "Ele quer ser tudo", ri, orgulhosa, Isilda.
Sensação de "grandeza"
A família está já encaminhada para subir as escadas em direção à popa do navio. É lá que está o leme, mas o que Júlia Pires, 58 anos, portuense de gema, quer mesmo saber, é se vão abrir as velas. "Quando saírem daqui, põem? Era giro", questiona. Logo lhe responde um sargento: "Sim, mas depende, por questões de segurança".
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"Estava curiosíssima porque acho que realmente vale a pena a visita e comecei agora, mas para já está a ser fantástico. Quando soube, não quis perder a oportunidade. Já andava há algum tempo a tentar visitar, porque acho um navio interessante e que faz parte da nossa História. Aliás, vim logo no primeiro dia", diz Júlia, de sorriso rasgado, ainda que a fila tenha assustado "um bocadinho".
Mas a sensação de entrar no navio-escola Sagres, refere, é de "grandeza". "Temos coisas fantásticas e que valem a pensa visitar. Às vezes vamos ao estrangeiro e queremos visitar tudo e no fundo, Portugal também tem coisas magníficas e que às vezes esquecemos", realça. É esse fenómeno, de procura pela História do próprio país, que se tem verificado por lá: "Curiosamente, perguntei também isso a um senhor que estava à nossa frente na fila, que também notou uma predominância de portugueses e não de estrangeiros".
"É uma obra-prima"
À saída, Fernando Ferreira e Rosalina Teixeira, ambos de 81 anos, estão em êxtase. "Tudo me surpreendeu", nota Fernando. "É uma obra-prima", atira Rosalina. Bastou atravessar o rio (vivem em Gaia) para visitar um navio que é, na ótica do casal, "uma honra para o nosso país".
Para Fernando, o orgulho é ainda maior: "Fui combatente. Fui e vim de Angola no Vera Cruz, mas esse levava três mil soldados. Este aqui já é diferente". O gaiense não esconde, contudo, o espanto perante o estado de conservação do navio-escola Sagres. "Está tudo polidinho. Ali não falta nada. É uma limpeza...", relata. Ainda assim, faltou "visitar a parte de baixo", para ver as camaratas.
"Ele queria mas não pode ser, de maneira alguma. A cozinha a gente viu por fora", relata Rosalina, já com água na boca depois de ter visto vários bifes a serem preparados para o almoço da tripulação. É agora a vez de o casal almoçar.