Empresário de Viseu apresentou proposta milionária pela Dielmar, 25 vezes acima da dos investidores de Leiria. A decisão ficou adiada para novembro.
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"Entrou ali um Ronaldo". Foi desta forma que Anabela Leitão, representante de 137 trabalhadoras não sindicalizadas, transmitiu ontem ao grupo de dezenas de trabalhadoras da Dielmar - que estavam no exterior do Tribunal do Fundão à espera do destino da têxtil -- o que tinha acabado de ver na segunda assembleia de credores. Não era Ronaldo, numa alusão à fortuna do futebolista, era Cláudio Monteiro, empresário de Viseu, que tinha acabado de oferecer dez milhões de euros pela empresa de Alcains, em Castelo Branco. Cerca de 25 vezes mais que a outra oferta que está em cima da mesa, 410 mil euros, da Outfit 21, de Leiria.
A proposta de Cláudio (cuja versão final chegou às duas da manhã de ontem ao administrador da insolvência João Gonçalves) surpreendeu todos, muitos dos quais não evitaram sorrisos de desconfiança, especialmente quando se propôs a transferir, sem contrapartidas, dois milhões de euros já amanhã para a massa insolvente, o que serviria para pagar os salários de outubro dos trabalhadores (170 mil euros) e mais oito milhões no dia seguinte. Perante isto, a assembleia de credores da empresa de confeções decidiu agendar uma nova reunião para 10 de novembro, onde tudo poderá ficar decidido.
A surpresa da tarde - a Outfit 21 já se tinha dado a conhecer à assembleia anterior e os dois últimos interessados acabaram por não avançar - apresentou-se como tendo formação em engenharia e detentor de duas marcas de confeção, sem especificar. Cláudio Monteiro começou por explicar que está a finalizar o processo de criação de uma empresa em nome individual para a compra da Dielmar. A proposta de dez milhões de euros levantou uma série de dúvidas, entre as quais a "bondade" do proponente, sócio único, que pouco adiantou sobre a capitalização da empresa e projetos para a mesma.
Menos mas mais
Mais sustentada foi a apresentação da Outfit 21. O administrador Vítor Madeira Fernandes reafirmou que quer ficar com a totalidade dos funcionários e liquidar os salários de outubro. "Até terça-feira seremos informados da aprovação bancária", referiu o empresário, uma negociação confirmada pelo Banco Português do Fomento, que garantirá o possível financiamento de um banco privado (Santander) à Outfit. A proposta foi reduzida de 670 para 410 mil euros, valor que inclui o pagamento dos salários de outubro. "A nossa proposta está condicionada pela obtenção de um financiamento que está a ser negociado. Se avançar, a atividade recomeçará em novembro", prometeu.
Trabalhadores surpreendidos e preocupados
À saída da reunião, a presidente do Sindicato dos Trabalhadores do Setor Têxtil da Beira Baixa, Maria Tavares, sublinhou que foram todos "apanhados desprevenidos" nesta reunião pela proposta de dez milhões que já existia no relatório do administrador da insolvência, mas que ainda não se conheciam os seus contornos. "Ainda vamos ter de analisar o que efetivamente consta numa proposta e na outra", disse.
A sindicalista sublinhou que a preocupação que se coloca agora a todos é quem e quando garante o pagamento dos salários do mês de outubro aos 137 trabalhadores.