Caos instalado na capital, em Oeiras, Loures, Odivelas, Cascais e Almada. Dezenas de estradas cortadas.
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A chuva intensa voltou a ser impiedosa em várias zonas do distrito de Lisboa, um dos mais afetados pelo mau tempo na madrugada desta terça-feira. A água entrou pelas casas, apanhando de surpresa habitantes enquanto dormiam e deixando, segundo a Proteção Civil Nacional, 70 desalojados na Grande Lisboa, 17 dos quais foram retirados de casa por precaução, já à noite, na Trafaria, Almada. A subida do nível da água e deslizamentos de terras levaram ao corte de várias estradas (alguns ainda se mantinham perto das 21 horas) e condicionaram a circulação de comboios e autocarros, o que levou ao fecho de escolas.
Nem uma semana depois de uma cheia que deixou comerciantes e moradores desolados, o "pesadelo" repetiu-se. Beatriz Dias, 20 anos, estava a dormir quando a água lhe entrou pela casa adentro. "Acordei às 3 horas com o barulho da água a entrar, estava quase a chegar à cama. Fiquei assustada. Vim à rua e vi logo os bombeiros a resgatarem pessoas e levaram-me", contou ao JN. Do rés do chão, onde a estudante vive sozinha, em Alcântara, Lisboa, só conseguiu trazer a mochila e o computador. "Ainda não sei o que se salvou", partilhou, inconsolável.
Já Joaquim Nogueira, na casa ao lado, tinha bem noção dos prejuízos. "A roupa debaixo da cama está toda estragada e já deitamos sapatos ao lixo. Alguns eletrodomésticos e móveis não devem ter reparação", explicava, enquanto limpava a casa alagada. Foi a mãe que o acordou, às 5 horas, e nem queria acreditar no que viu. "A água nunca passa deste degrau e passou. Em 15 anos, nunca tinha subido a este nível. Estivemos quatro horas com água pelos joelhos", recordou ainda abalado.
água rebentou com tudo
Dentro das habitações e lojas, em Alcântara, bombeiros tentavam retirar a água com mangueiras ou perfurações na entrada das casas. Domingos Pereira, proprietário do café Golfinho, viu as previsões do mau tempo e pôs uma chapa à entrada da porta, mas não foi suficiente. "A água arrebentou com isto tudo na mesma. Estou aqui há 30 anos e nunca tinha visto igual, os eletrodomésticos foram todos à vida", frisou.
Um cenário que se repetiu em várias localidades da Grande Lisboa, como Algés, em Oeiras, onde a estação de comboios voltou a ficar submersa após vários dias de trabalhos de limpeza. Acabados de restabelecer atividade e de recuperar do choque da inundação da semana passada, vários comerciantes também voltaram a perder tudo.
André Grilo, proprietário de uma lavandaria, barrou a entrada com uma chapa de 30 centímetros, mas, diz, "infelizmente a água subiu mais do que esperávamos". José Esteves, do restaurante Sé da Guarda, na semana passada conseguiu reabrir no dia seguinte às cheias, mas desta vez não conseguirá. "Estragaram-se máquinas e eletrodomésticos, estão cheios de lodo". Desta vez, a água galgou escadas e muros, causando prejuízos maiores que poderão levar ao fecho de algumas lojas "pois perderam tudo", adiantou ao JN a presidente da União de Associações do Comércio, Carla Salsinha.
Escolas fechadas
A chuva intensa e ventos fortes que se fizeram sentir paralisaram vários concelhos da Grande Lisboa. A circulação de comboios esteve condicionada em vários troços nas linhas de Sintra e Cascais, alguns autocarros da Carris não circularam e estações de metro estiveram interditas. O mau tempo levou ainda ao fecho de escolas e algumas universidades suspenderam atividades presenciais.
Várias estradas nacionais e acessos a autoestradas e itinerários complementares foram cortados em Lisboa, Loures, Odivelas e Torres Vedras devido ao galgamento do rio e deslizamento de terras. Em Lisboa, estiveram ainda intransitáveis vários túneis e avenidas, assim como a Segunda Circular no sentido Lisboa-Norte ou o IP7 no sentido Norte-Sul para a Ponte 25 de Abril.
Casos
Queda de muro
Um muro caiu, em Oeiras, após um deslizamento de terras. Três carros e cabos elétricos ficaram danificados e uma rua foi cortada.
Carro soterrado
Um aluimento de terras, na Amadora, deixou um carro soterrado. Dois ocupantes foram hospitalizados e o trânsito ficou interrompido.
Presos em casa
Uma derrocada no Lumiar, em Lisboa, impediu 14 moradores de sair de casa durante várias horas.