Posto instalado em Terras de Bouro, em junho, conta com 16 militares da GNR e funciona 24 horas por dia.
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O Parque Nacional da Peneda-Gerês passou a contar, desde junho, com um posto de busca e resgate em montanha da GNR, que funcionará todo o ano, 24 horas por dia, à semelhança do que já acontece na serra da Estrela e na Madeira. Ao todo, são 16 militares preparados para acudir visitantes e turistas que se perdem na montanha ou sofrem acidentes nas cascatas, ao mesmo tempo que sensibilizam a população para comportamentos de risco.
Com sede na vila do Gerês, em Terras de Bouro, a equipa acolhe elementos que faziam parte da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro (UEPS) da GNR que, nos últimos anos, durante os meses de verão, já eram chamados para patrulhar as zonas mais turísticas, como a cascata Fecha de Barjas, um dos pontos negros em relação aos acidentes (ver caixa ao lado). Foi aqui que, ontem, André Miguel, com 14 anos, aceitou o desafio de participar num exercício da equipa de resgate, minutos depois de, confessa, "ter escorregado" nos penedos. "Eu avisei-o para não ir de chinelos. Já sabia que isto era perigoso", atira o pai, Joaquim Vieira, já depois do simulacro que captou a atenção dos presentes.
Foi o caso das lisboetas Matilde Mira e Rita Ferreirinho que, ao primeiro alerta do tenente-coronel Vítor Lima - segundo-comandante da UEPS - sobre o perigo de circular com chinelos, pararam a caminhada e ficaram-se pelas fotos em zona segura. Há, também, quem ignore os avisos e siga caminho de toalhas, lancheiras e até bebés às costas. E há, ainda, quem não respeite o ambiente.
"Há outros comportamentos de risco, como utilização do fogo durante o verão, o estacionamento desgovernado, despejo abusivo de detritos, que vão ocorrendo com frequência resultante dos piqueniques. A nossa presença serve para todas essas questões", resume o tenente coronel, ladeado pelo sargento-ajudante Caridade, comandante do posto.
Trabalho moroso
Para os responsáveis, estar em permanência no Gerês, não só permite "interagir com a população e outros agentes de proteção e socorro", desde a Cruz Vermelha aos Bombeiros Voluntários, como também permite "acumular conhecimento" sobre as zonas críticas e formas de salvar as vítimas.
"O parque é muito grande e tem que haver conhecimento de toda a área. É um trabalho moroso", conclui o tenente-coronel.
ALERTA
15 ocorrências e muito lixo no chão
Até 16 de agosto, os guardas da Unidade de Emergência de Proteção e Socorro (UEPS) da GNR registaram 15 ocorrências no Gerês, entre salvamentos e resgates, que resultaram em 28 vítimas, nenhuma delas mortal. Destas missões de socorro, 11 situações já tiveram o trabalho dos militares do novo posto permanente, em Terras de Bouro.
De acordo com os dados da GNR, a maioria dos incidentes, até ao momento, deveu-se a gente desaparecida na serra, com 14 vítimas em oito buscas, ou seja, mais três ocorrências do que em todo o ano de 2020. O caso que envolveu mais vítimas deu-se num trilho de Rocalva, com nove jovens.
Aos acidentes, Hermenegildo Sousa, membro do projeto "Gerês Seguro", da Associação Gerês Viver Turismo, que faz sensibilização nas atrações turísticas, lamenta a poluição no parque, que cresce ano após ano. "Nunca vi tanto lixo. São casas de banho improvisadas, garrafas de cerveja e tabaco, por exemplo. Antigamente, havia mais respeito pela natureza. Agora, a qualidade do visitante diminuiu. Já não vêm pelo amor à montanha, vêm pela parte balnear", descreve o colaborador.