Sérgio Gonçalves criou, com uma motosserra, uma faixa de contenção e travou um incêndio. Num dia de folga, socorreu turistas e colegas. Foi reconhecido com louvor pela Guarda.
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Sérgio Landeira Gonçalves tem 36 anos. Desde 2005 que é militar da GNR e faz parte, há 14 anos, do posto de busca e resgate em montanha do Gerês, lugar que conhece desde pequeno porque ali pastou gado com a família. "As paisagens, a tranquilidade e a vida em contacto com a natureza foram os fatores mais que motivadores para adquirir e manter esse gosto", afirmou ao JN. Conhecido por ser discreto, a ele se deve o êxito de vários resgates no Gerês, muitos em dias de folga ou em férias. Porém, foram dois atos que o tornaram num herói, depois alvo de um louvor recente dado pelo comandante-geral da GNR, tenente-general Rui Clero, que o aponta como exemplo a seguir.
O reconhecimento releva a ação decisiva num incêndio num local inacessível a viaturas e o salvamento de um casal de turistas e colegas numa zona difícil de Pé do Cabril. Nesse dia, estava de folga.
No louvor do tenente-general Rui Clero é recordado o grande incêndio, de 12 de setembro de 2013, no Parque Nacional da Peneda-Gerês, "em terreno inacessível a viaturas e com potencial para atingir enormes dimensões". "Com os meios de combate manifestamente insuficientes, o guarda-principal Landeira Gonçalves, na sua qualidade de chefe de equipa terrestre, com singular perspicácia, iniciativa e conhecimento técnico, após uma correta avaliação da situação, propôs ao comandante das operações de socorro a realização de uma faixa de contenção e o uso de fogo tático para debelar a parte mais ativa do incêndio", refere a distinção. Ainda de acordo com o louvor, "o próprio militar liderou os trabalhos de construção da faixa, manuseando a motosserra com proatividade e dinamismo, resultando na extinção completa do incêndio e confirmando-se que a ação tomada foi determinante no [bom] resultado desta missão".
A GNR destacou outro salvamento, em 20 de agosto de 2018, no Parque Nacional da Peneda-Gerês. "Num quadro de elevada complexidade, foi necessário resgatar um casal. Por ser um local de difícil acesso, a equipa de resgate teve necessidade de passar a noite junto do casal, aguardando a chegada do meio aéreo da Força Aérea previsto para o nascer do dia". "Para garantir a integridade física das vítimas", numa zona difícil próxima do alto do Pé de Cabril, em Campo do Gerês, Terras de Bouro, eram necessárias mantas térmicas, água e alimentos energéticos.
Três horas de caminho
Nessa ocasião, Sérgio, que se encontrava de folga, "de imediato, fazendo jus ao seu incontornável espírito de sacrifício, prontificou-se para a tarefa, transportando os artigos solicitados, num trajeto longo e difícil com diversos obstáculos naturais e com uma duração de três horas, contribuindo decisivamente para o sucesso da missão, revelando excecionais qualidades físicas e morais".
Estes dois casos não são para Sérgio os que mais o marcaram. São todos os que implicam morte. "Quando se vai remover um sinistrado já cadáver, custa", confidenciou ao JN. E refere os casos fatais no Poço da Moura, em Cabril, bem como das quedas na Cascata do Arado, no Gerês. "Mesmo sabendo que nada se poderia fazer, é sempre triste retirar alguém sem vida para entregá-lo a um familiar", diz. Gratificante, acrescenta, "é saber que poderemos salvar, com as nossas forças de resgate, alguém que está em dificuldades".
"Posso dizer que estou realizado. As equipas com quem trabalho, com três a cinco elementos, são fortemente treinadas. São militares com diversas áreas de formação - canyoning, socorro em situações de espeleologia, de escalada, de progressão em ambientes de neve, formação de tripulante ambulância de socorro, entre outras - que complementam o nosso conhecimento da zona de intervenção", remata.
Quem é?
Aldeia da Ermida
Sérgio Landeira Gonçalves é casado e tem dois filhos. Natural da aldeia da Ermida, freguesia de Vilar da Veiga, em Terras de Bouro, nasceu numa família do mundo rural.
Passagem pelo GIPS
Jurou bandeira no Centro de Formação de Portalegre. Fez parte do Comando do então Grupo de Intervenção de Proteção e Socorro (GIPS ) da GNR (Lisboa), entre 2005 e 2007, ano em que passa para Braga.