Projeto pedagógico fundado em 1982 deixa centro histórico do Porto. Antiga fábrica têxtil contígua a Fernão Magalhães acolhe mudança já em setembro.
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Nascida de dissidentes das Belas Artes e instalada no Largo de S. Domingos desde 1982, a Escola Superior Artística do Porto (ESAP) corta a relação umbilical com o centro histórico da cidade e muda-se para as Antas. A transferência está prevista já para setembro, assim se concluam as obras na antiga fábrica de têxteis que há de dar lugar a todo o campus. Os vizinhos da Ribeira já sentem a saudade dos estudantes e adivinham mais um projeto hoteleiro. A escola diz que não e que o edifício permanecerá como espaço de exposição e de interação pedagógica com o mundo das artes.
Outra instalação contígua, o Palacete de Belomonte, adquirido em 2001 pela Cooperativa de Ensino Superior Artístico do Porto, dona da escola, foi vendido. Não foi revelado o negócio de alienação do solar do século XVIII, que foi dos Pacheco Pereira e onde, durante as últimas décadas, foram instalados a biblioteca, o auditório, o centro de informática, os estúdios, as oficinas, os ateliês e também algumas salas de aulas. Agora, muda-se tudo para a Rua do Major David Magno, numa margem da Avenida de Fernão de Magalhães e nas cercanias do antigo liceu Oliveira Martins, onde funciona a Escola Artística Soares dos Reis, precisamente o estabelecimento com quem a ESAP mantém um protocolo de cooperação pedagógica.
Obras em curso
"Era uma mudança necessária e há muito desejada. A escola era já muito exígua. Os espaços não eram os mais adequados para os alunos. E não se podia intervir no edifício, devido à localização", observa Eduarda Neves, diretora académica da ESAP, que se felicita com as futuras instalações.
Na antiga fábrica têxtil não há as restrições de construção do centro histórico, classificado património mundial, e as obras estão já em curso. Prevê-se que estejam concluídas em 2022, mas também se espera que o edifício possa acolher o arranque do próximo ano letivo, lá para setembro.
Cluster de artes
A nova ESAP ocupará uma área total de 8400 metros, onde se disporão os serviços administrativos e de gestão da CESAP, salas de aulas, ateliês, oficinas, laboratórios, auditórios, galeria de exposições, biblioteca, bar/cantina, serviços académicos e administrativos da ESAP e uma residência universitária.
"A proximidade com a Escola Artística Soares dos Reis permitirá, ainda, robustecer o cluster de artes, e contribuir para o processo de reabilitação física e social da zona Oriental da cidade, que se encontra já em plena transformação urbana e dinamização cultural", conclui Eduarda Neves.
Comunidade
500 pessoas frequentam a ESAP. Quatro centenas são alunos, entre os quais estudantes Erasmus (em 2019, quatro dezenas eram europeus).
Gentrificação
"Se não houver locais e só ficarem turistas..."
Se já lhes sentem a falta por estes dias de pandemia, os vizinhos dos estudantes da ESAP veem na deslocação da escola mais do que o sentido utilitário das caixas registadoras do comércio local. "Sinceramente, não é tanto isso, até porque, no meu caso, 95% do negócio é com turistas. Esses é que fazem falta", diz ao JN um comerciante, que pede anonimato. Outro, Carlos Silva, de uma loja de ferragens, atalha abertamente: "Sempre faziam algumas compras. Mas, nem é tanto pelo negócio. Eles davam identidade local. E também a autenticidade que os turistas procuram no Porto. Se não houver locais e ficarem só os turistas...".