Quem mora na Prelada ou nos Pinhais da Foz, no Porto, já não estranha que nesta época do ano as árvores deixem cair uma espécie de flocos de neve, cobrindo jardins e passeios de branco.
Corpo do artigo
O mesmo acontece em Matosinhos, na zona envolvente à igreja. Os moradores queixam-se que as sementes dos choupos incomodam e são prejudiciais para a saúde. A Câmara do Porto garante não "existir fundamentação técnica que valide a ideia de que o algodão provoca alergia".
Elisete Riqueza, 74 anos, diz que "o algodão que cai dos choupos é horrível". E há cerca de duas semanas fez com que vivesse um momento de aflição. "Entrou-me uma coisa destas para a boca e tive de ir ao hospital", conta, considerando que o problema "tem de ser resolvido".
Não podemos ter as janelas de casa abertas
Maria Ferreira, 63 anos, também lamenta a situação: "Não podemos ter as janelas de casa abertas". Nas farmácias da Prelada, a procura por antistamínicos aumentou.
Pólen de outras espécies
Paulo Alves, diretor científico da empresa Floradata, explica que "as sementes de choupo, produzidas pelas árvores fêmeas de diversas espécies de choupo, não são alérgicas por si só". Um artigo recente mostra, no entanto, que estas sementes podem acumular pólen de outras plantas, esse sim alergénico.
Nos Pinhais da Foz, também há jardins cobertos de branco. E Tiago Marques, 23 anos, diz que este ano a situação "está pior". Já em Matosinhos, as próximas semanas serão de festa. Mas, tal como os moradores, os vendedores lamentam os incómodos causados pelas sementes dos choupos. "Se não chover, vamos levar com isto até ao fim da festa", diz uma vendedora que não quis identificar-se.
Paulo Farinha Marques, professor de Arquitetura Paisagística na Faculdade de Ciências do Porto, sublinha a importância dos choupos para criar espaços verdes, uma vez que são "resistentes à agressividade urbana, nomeadamente à poluição" e crescem rapidamente.
A Câmara do Porto diz que "os estudos científicos apontam para o facto de o pólen da maioria das árvores, nomeadamente das que produzem o vulgo "algodão", não causar alergias". E salienta que "quando as árvores produzem o algodão - estrutura que garante a disseminação da semente - já não existe qualquer formação do seu pólen". Para a Autarquia, "é preciso desmistificar a ideia de que a resolução dos problemas de alergias deverá passar pela eliminação de muitas árvores". A Câmara de Matosinhos não respondeu em tempo útil.