Trânsito cortado durante um ano. Passagem de peões assegurada por plataformas deixa comerciantes mais aliviados. Trajetos alternativos à travessia já dão dores de cabeça a lojistas.
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Arrancam à meia-noite da próxima quinta-feira, dia 14, as obras de reabilitação e reforço do tabuleiro inferior da Ponte de Luís I, que liga Porto e Gaia. A empreitada, de 3,3 milhões de euros, reclamada há vários anos por moradores e comerciantes, obriga ao corte de trânsito naquela travessia durante pelo menos um ano. Mas a garantia de que os peões vão poder continuar a atravessar a ponte deixa os lojistas a respirar de alívio.
Quem vive ou trabalha na zona aponta o dedo à falta de manutenção da infraestrutura, entendendo que essa é a principal causa para o elevado estado de degradação da travessia. "Se fizessem a manutenção como devia ser, se calhar a ponte não chegava a este ponto", repreende Bernardino Luís, de 73 anos. "Está cheia de ferrugem", nota o portuense, que mora na Avenida de Gustavo Eiffel.
O estaleiro da obra, a cargo da Infraestruturas de Portugal, está montado do lado de Gaia e já há equipamento junto à travessia. Durante a empreitada, a laje do tabuleiro será substituída e os passeios arranjados.
Para Maria Pinho, de 65 anos, "é lógico" que os negócios vão ser prejudicados. "Mas as obras têm de ser feitas. Não podemos querer tudo. Não faz sentido a gente estar a passar na ponte e a ver o rio lá em baixo por entre os buracos", considera a comerciante, com loja aberta na Ribeira há 18 anos.
"Aquilo está horrível, está um nojo e acho mesmo que acaba por já estar um pouco perigoso", refere Maria, destacando as "falhas entre o passeio e a estrada", que transmitem uma sensação de "insegurança" a quem passa a pé.
Luísa Ferreira e Amadeu Ferreira, com um café no número 42, são da mesma opinião: "A obra já devia ter sido feita há muitos anos. É um perigo". "Passo lá de longe a longe e vou sempre pelo meio da rua, não vou pelo passeio", confessa Amadeu.
perda de clientes
Com a passagem de peões garantida - através de plataformas -, algo que preocupava os comerciantes por conta da afluência de turistas, a dor de cabeça de quem trabalha na restauração e usa o carro é, agora, as voltas que terá de dar para chegar ao emprego.
"É ver quantas pessoas trabalham aqui e não são daqui. É preciso ver onde as pessoas moram e se têm autocarros. Além de que, no verão, quando os restaurantes fecham à uma ou duas da manhã, onde é que vão ter transporte?", alerta Maria Pinho, que não concorda que a travessia fique livre de carros no primeiro semestre de 2025, quando estiver pronta a Ponte D. António Francisco dos Santos.
"Já viu onde é que vai ficar? A gente não conta? É ótimo para os turistas, mas então quem vem trabalhar?", critica a comerciante.
Do Bar Ponte Pensil, o responsável Rui Matos, de 31 anos, admite a possibilidade de "perder muitos clientes". "Mesmo quando há manutenções por um curto espaço de tempo, acabamos por perder alguns. Então agora é certo que vamos ser prejudicados. Nós e todos", observa.
Nova travessia libertará trânsito
Ponte D. António Francisco dos Santos fica pronta no segundo semestre de 2025
A partir do segundo semestre de 2025, carros e autocarros serão desviados para a Ponte D. António Francisco dos Santos com o objetivo de libertar o tabuleiro inferior da Ponte de Luís I. Há mais de 15 anos que o superior só é utilizado pelo metro.
A nova travessia, que homenageia o falecido bispo do Porto, vai nascer entre a zona de Quebrantões, em Gaia, e Campanhã, no Porto, terá uma extensão de 625 metros, sendo que apenas 300 serão sobre o rio Douro. Os restantes 325 sobrevoarão terrenos na margem de Gaia.
Construída entre as pontes de S. João e do Freixo, a nova ponte terá duas faixas de circulação em cada sentido, separador central, passeios e ciclovias unidirecionais em ambos os lados.
Quando foi apresentada, o projeto representava um investimento de 12 milhões de euros, mas a necessidade de alterar o plano (foi preciso, por exemplo, mudar a localização) e a concretização dos acessos fizeram subir significativamente a fatura. Em maio passado, as autarquias apontaram um valor de 36,9 milhões de euros, mas a verdade é que o preço-base do concurso público, lançado em junho, foi de 38,5 milhões.
O prazo máximo de execução apontado no caderno de encargos, incluindo a elaboração do projeto e a construção propriamente dita, é de 1150 dias (mais de três anos). Assim, aponta-se a conclusão dos trabalhos e abertura do tabuleiro à circulação para o segundo semestre de 2025.
Detalhes
3,3 milhões de euros
Reparar o tabuleiro inferior da Ponte de Luís I vai custar 3,3 milhões de euros. Chapas deformadas, aparelhos de apoio e juntas de dilatação vão ser substituídos.
Circulação do metro
O serviço da Linha Amarela do metro do Porto, cujos veículos atravessam o tabuleiro superior da ponte há 15 anos, não vai sofrer qualquer constrangimento.