O atraso na elaboração do projeto de arquitetura do arranjo da igreja de Santa Cristina de Serzedelo, no concelho de Guimarães, levou a Fundação Iberdrola a desistir de financiar a requalificação daquele templo religioso, que é monumento nacional.
Corpo do artigo
A fundação, com sede em Espanha, ia pagar um terço da obra, oferecendo ao Estado português 40 mil euros dos 120 mil euros necessários para a requalificação. Agora desistiu e vai ser o próprio Estado a desembolsar esse dinheiro através da Direção Regional de Cultura do Norte (DRCN).
A informação foi avançada ontem pelo vereador do Urbanismo da Câmara de Guimarães, Fernando Seara de Sá (PS), que culpou a DRCN pelo atraso na elaboração do projeto: "A culpa foi das outras entidades que participaram e não fizeram o que deviam ter feito. Este processo demorou demasiado tempo e, para que ele terminasse agora, a Câmara teve de fazer o esforço suplementar de se substituir à DRCN".
Segundo o protocolo assinado em novembro de 2017, o projeto de arquitetura estava a cargo da DRCN e a Câmara assumia a obra. A Autarquia pagava 80 mil euros e a Fundação Iberdrola os restantes 40 mil. Contudo, o projeto chegou incompleto à Câmara, que teve de o melhorar, e o processo arrastou-se durante quatro anos, o que levou à desistência do mecenas.
"Foi-nos comunicado pela DRCN que a Fundação Iberdrola tinha saído do processo e que seriam eles a substituir com a comparticipação nas obras que a fundação tinha assumido", revelou Seara de Sá.
André Coelho Lima (PSD), vereador da Oposição, também criticou a DRCN por uma "atuação lenta, atrasada e que não dá a Guimarães a importância que Guimarães merece", classificando como "a maior demonstração de incapacidade e incompetência dos agentes públicos" o facto de terem perdido o mecenas por atrasos no projeto. Para o social-democrata, é "o Estado e a sua incompetência em todo o seu esplendor" e a Câmara devia ter "uma voz mais dura" para pressionar o avanço de este e de outros dossiês importantes.
Ao JN, a DRCN confirma que irá assumir o pagamento de 40 mil euros e justifica que o atraso resultou de "prospeções efetuadas na igreja que revelaram algumas estruturas que implicaram uma análise mais detalhada".
A Fundação Iberdrola também rubricou um protocolo semelhante com Boticas para requalificar a igreja de Santa Maria de Covas do Barroso, inaugurada 2019.
Pormenores
Risco de queda - Um diagnóstico feito à igreja de Serzedelo em 2008 pelo Igespar já identificava que o telhado "ameaçava ruir e metia água" e "havia risco de ruína", denunciou o padre José Marques, no mesmo ano.
Sem atividades - Face às constantes infiltrações, queda de telhas e risco de ruína, as atividades paroquiais, como a catequese e a missa, deixaram de se realizar na igreja. O monumento nacional está fechado ao público.
Pinturas apagadas - Os afrescos (pintura sobre reboco) presentes na nave principal e na sacristia estão em avançado estado de degradação. Muitas estão apagadas e não foi ainda feito um estudo para perceber se podem ser recuperadas.