Número de residentes subiu 27% em 2020. Espanhóis lideram, seguidos de britânicos, franceses e alemães. Famílias procuram "segurança e tranquilidade".
Corpo do artigo
Quando Clovis e Katia Rodrigues, e os três filhos, se preparavam para embarcar num avião para uma vida nova longe do Brasil, faltavam poucos dias para o primeiro estado de emergência em Portugal (18 de março de 2020). A mudança de Teresópolis, uma pequena cidade no interior do Rio de Janeiro, em busca de segurança e de um futuro mais promissor na Europa, estava a ser preparada há três anos. E concretizou-se, finalmente, para o Norte de Portugal, à justa com a primeira fase de confinamento. Passaram provisoriamente por Esposende e em dezembro instalaram-se em Moledo. Foram um dos 76 agregados familiares imigrantes que se mudaram para o concelho de Caminha no ano passado, em plena pandemia, mais 27% que em 2019 (60 famílias). Os espanhóis lideram, seguidos de britânicos, franceses e alemães.
"Chegamos três dias antes do primeiro estado de emergência. Foi complicado. Os nossos planos mudaram totalmente. Fomos para Esposende, onde temos um casal de amigos, que tem cinco filhos. E depois viemos para cá em dezembro", conta Katia, 48 anos, que tem dupla nacionalidade, alemã e brasileira, assim como os filhos Bruna, de 26, Laura, 21, e Carlos, com 18. Katia trabalha, juntamente com a irmã mais velha, na fábrica das eólicas (Enercon) em Viana do Castelo. "Quando surgiu uma oportunidade de trabalho viemos. Gostamos muito deste local. Estamos a adorar", afirma o pai Clovis, de 63 anos, técnico de segurança no trabalho.
Os Rodrigues vivem a escassos metros da praia, na avenida principal de Moledo. Dizem-se, agora, felizes. "O Brasil é o país que eu amo, mas está numa situação horrorosa.
Resolvemos que estava na hora de sair. A decisão foi tomada por eles [filhos]. Viemos à procura de melhor qualidade de vida e já sentimos isso aqui", disse Clovis. "Queríamos a segurança e a tranquilidade que Moledo nos está a dar. Trabalho por turnos e na semana passada, por exemplo, com aqueles dias de sol quentinhos, e como saio às 16 horas, ainda deu para passear na praia", comentou Katia.
"Aqui tudo é melhor"
Encantados com o azul atlântico do mar de Moledo, em dias soalheiros, estão também os franceses Hervé e Nathalie Pierreisnard.
Agentes imobiliários, com 48 e 45 anos, compraram uma casa para férias em 2016. Acabaram por mudar-se definitivamente em outubro de 2020. "Queríamos vir para Portugal por causa da segurança e da boa gente. Depois escolhemos a zona de Caminha porque está em frente ao mar e a menos de uma hora do aeroporto do Porto, para as viagens da família e amigos. É perfeito", justifica Nathalie. Além disso, acrescenta, "Moledo é um sítio mais ou menos parecido com o que vivíamos em França, entre Bordéus e o País Basco".
Numa vivenda com vista para o mar, para a ínsua de Moledo e o monte de Santa Tecla (Galiza), o casal Pierreisnard continua a trabalhar para uma empresa do país de origem, mas em teletrabalho. Louvam a traquilidade que antes não tinham, por causa da criminalidade crescente. "Lá não podia sair sozinha. Aqui posso ir correr para a praia e não há qualquer problema", aludiu a francesa. "Aqui tudo é melhor do que em França", resumiu Hervé.
De onde vêm?
Segundo a Câmara de Caminha, os novos residentes naquele concelho são oriundos de Espanha (34), Reino Unido (15), Alemanha e França (6), Itália (5), Suíça (3), Bélgica (3), Polónia (2) e Roménia (2).
A crescer desde 2016
Ainda de acordo com a Autarquia, a instalação de estrangeiros em Caminha tem crescido paulatinamente nos últimos quatro anos, com 19 novos residentes em 2016,31 em 2017, 42 em 2018 e 60 em 2019. Entre 2016 e 2020 houve um aumento de 300%.