Brasileira, alemã e italiano falam sobre a quarentena e a situação nos seus países.
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Cora Cecchini é brasileira, Giacomo Meneghetti nasceu em Itália e Pauline Wipfler é alemã. Chegaram ao Porto quando o novo coronavírus ainda não assolava Portugal. Iniciaram um semestre de estudos e gastaram a sola dos sapatos à descoberta dos encantos da cidade. Um mês depois, a pandemia mudou-lhes a rotina. Estão resguardados em casa, com aulas à distância. São três dos 6300 estudantes internacionais na Universidade do Porto (UP) neste ano letivo. A maioria preferiu manter-se em Portugal.
1. Cora Cecchini "A minha família está a cuidar-se"
Cora Cecchini adiou o sonho de conhecer a Europa. É brasileira e está a fazer Erasmus na Faculdade de Economia. A pandemia obrigou-a a desmarcar cinco viagens. "É muito frustrante", lamentou a estudante, que só se apercebeu da "gravidade" da situação provocada pelo novo coronavírus quando a faculdade encerrou. "Achava que estavam a exagerar e que não ia ser assim tão mau", confessou.
Quando surgiram os primeiros casos positivos, alguns colegas, a estudar noutras cidades portuguesas, regressaram a casa. Cora Cecchini ponderou fazê-lo. Ainda assim, decidiu ficar. "O meu medo era que no Brasil fosse pior. E que, estando lá, não conseguisse voltar para aproveitar um pouco do meu Erasmus", justificou. Todos os dias fala com os pais e a irmã. Estão em teletrabalho. Por videochamada, amenizam-se as saudades.
"Não estou preocupada. A minha família está a cuidar-se muito", referiu a estudante, temendo que em algumas zonas do Brasil a situação possa tornar-se grave: "Há muitas pessoas que não têm saneamento básico, nem podem ficar em casa porque necessitam de trabalhar para conseguir comida e pagar contas".
2. Pauline Wipfler "Não está a ser como imaginei"
Desde que fechou a Faculdade de Economia, Pauline Wipfler passa os dias a estudar, a ver filmes, a fazer exercício e a desfrutar do jardim da casa que divide com dois colegas. Quando chove, a rotina imposta pelo estado de emergência torna-se mais "aborrecida".
Tem 24 anos, é alemã e é a segunda vez que faz Erasmus. Estar sozinha num país estrangeiro não lhe soa estranho. "O primeiro mês foi perfeito. Tivemos muitas atividades", lembrou.
Atendendo ao cenário vivido na Alemanha, onde também impera o isolamento social, optou por cumprir a quarentena em Portugal. "Aconteceu tudo muito rápido. Não está a ser como imaginei, mas estou em casa e as hipóteses de ficar infetada são poucas".
Os pais vivem numa vila. Por lá, as escolas estão encerradas e só os serviços essenciais, como supermercados, permanecem de portas abertas. "Em algumas regiões as medidas são mais restritivas. Os meus pais não vão trabalhar, mas podem ir ao supermercado e passear o cão", contou Pauline, preocupada com o futuro. "Não sabemos de que forma irá afetar a economia e a nossa vida depois".
3. Giacomo Meneghetti "Ninguém estava muito preocupado"
Quando regressar a Itália, Giacomo Meneghetti tem uma certeza: o verão será diferente. Sem aglomerações, nem festivais. Tem 23 anos e está ciente das dificuldades que o país enfrenta. Quando aterrou no Porto, em fevereiro, a situação não era tão alarmante. "Ninguém estava muito preocupado. Pensavam que era só uma gripe", recordou o aluno de Desporto. Agora, os "hospitais estão cheios", "com médicos e enfermeiros a trabalhar 12 horas por dia". Há militares nas ruas e as pessoas estão em casa. À distância, acompanha o crescente número de infetados e o registo de mortes.
"Fomos um dos primeiros países a enfrentar isto e não sabíamos o que estava a acontecer. Agimos mais tarde. Aqui, não desvalorizaram a situação. Fecharam tudo e as pessoas estão em casa desde que descobriram o problema", disse.
Inicialmente, o regresso a casa estava previsto para final de junho. Com a situação atual, talvez fique mais um mês. No Porto, os dias são passados em isolamento, com aulas pelo computador. De vez em quando sai para correr. Finda a quarentena, Giacomo tem uma lista de coisas a fazer. Conhecer outras cidades portuguesas é uma delas. v