Primeira grande análise ao estado geral do comércio na cidade indica que a falência foi o principal motivo para o fecho dos espaços. Centro Histórico é a zona mais ativa.
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O Porto tem três mil lojas vazias à espera de atividade. Em funções plenas continuam 6690 espaços, com os restaurantes a dominarem em larga escala e o Centro Histórico a prevalecer como zona preferencial de negócio.
Os dados constam do Observatório do Comércio, encomendado pela Câmara Municipal do Porto a uma equipa de especialistas da Porto Business School (PBS) e a que o JN teve acesso.
"Trata-se de três mil espaços cuja generalidade teve utilização comercial e que estão atualmente no mercado disponíveis para voltarem a receber negócios", explica Pedro Quelhas Brito, coordenador científico do estudo, realizado no terreno durante os anos de 2020 e 2021 e concluído ao longo de 2022. Além de Pedro Quelhas Brito, integraram o estudo Patrícia Teixeira Lopes, coordenadora-geral, Cátia Santana, assistente de projeto, e Mafalda Teles Roxo, investigadora sénior, todas também da PBS.
Os encerramentos ocorreram ao longo dos "últimos anos" e a "grande maioria" dos proprietários não mais voltou a retomar o negócio, mesmo noutra localização, indica o coordenador.
O Observatório aponta que o principal motivo para os fechos foi a falência, o que sucedeu em 499 casos. A pandemia obrigou a tal medida definitiva em 190 situações, ao passo que 130 lojas mudaram de instalações, 77 foram obrigadas a suspender negócio devido à venda ou aluguer da fração ou prédio onde estavam instaladas, 63 pararam por não suportarem o valor elevado das rendas que pagavam e 53 devido à falta de clientes. Outras 98 desistiram por falecimento ou reforma dos proprietários ou por motivo de obras (49 em cada um dos cenários).
Câmara otimista
Analisada toda a fotografia ao setor, a Câmara do Porto acredita que estão reunidas as condições para concluir que o comércio possui forte âncora de sustentação futura. "A oferta é heterogénea e o setor tem respondido ao dinamismo da procura e aos desafios societais", afiançou ao JN fonte da Autarquia. "A informação recolhida no Observatório do Comércio tem-se revelado fundamental para a classificação positiva das candidaturas do município ao Programa de Recuperação e Resiliência - Bairros Digitais, com o propósito de fomentar o desenvolvimento do comércio e dos serviços abertos ao consumidor", acrescentou a mesma fonte.
Daquela que é considerada a mais exaustiva radiografia alguma vez feita ao setor do comércio do Porto, ressalta ainda a grande concentração de lojas no Centro Histórico (46,1%). Seguem-se Paranhos, com 11,9 do número global de estabelecimentos abertos, e o Bonfim (10,5%). Campanhã é a freguesia com menos atividade comercial (7,6%).
Os restaurantes são predominantes, detalha também o Observatório do Comércio. Há 810 espalhados pela cidade, 18,6% do total de espaços. A alguma distância estão cabeleireiros e barbearias (516), padarias, pastelarias e cafés (452), lojas de artigos de vestuário (445) e mercearias, frutarias, charcutarias e talhos (405).
O número desce para metade quando se fala de papelarias, tabacarias ou livrarias (252), lojas de acessórios para o lar ou de brinquedos (160) e casas de decoração ou design (145).
"Cidade é apetecível para o comércio
Joel Azevedo, presidente da Associação dos Comerciantes do Porto
Como caracteriza o estado atual do comércio no Porto?
O balanço atual é muito positivo. Embora ainda não tenham sido publicados os dados do Instituto Nacional de Estatística relativos a 2022, tudo aponta para que a atividade se possa equiparar à dos anos pré-pandemia, apesar das dificuldades de contexto que o país atravessa e que privam o consumo, em particular a inflação. No entanto, no geral, a Associação dos Comerciantes do Porto não tem recebido queixas significativas.
O que catapultou tal subida?
A retoma do turismo é visível na cidade, o que proporcionou a procura do comércio de rua. O panorama comercial do Porto afirma-se cada vez mais e é notório que a cidade é apetecível e concentra dinamismo, sobretudo nas áreas centrais.
Que preocupações sobram ao setor?
O número elevado de empresários que querem investir no Porto pode levar a um processo de descaracterização, que substitua o comércio tradicional por outro menos identitário. Há que evitar que as marcas multinacionais se sobreponham às montras de produtos portugueses. Além disso, a questão das rendas elevadas também é fator de preocupação, assim como a dificuldade notória para captar novos colaboradores, problema, aliás, transversal a outras atividades.