Se os terrenos da Petrogal forem usados para outros fins, alegam que deviam voltar para os antigos donos.
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Corria o ano de 1961. O Governo de Salazar começava a expropriar terrenos em Leça da Palmeira, Matosinhos, para ceder à Sacor - agora Petrogal - e, por interesse público nacional, construir uma refinaria no norte do país. Várias famílias ficaram sem as propriedades mediante uma compensação e viram o mato que ocupava 260 hectares dar lugar à refinaria do Porto, que funcionou durante meio século. Agora, com a produção de combustíveis parada desde abril deste ano e perante a incerteza de qual a atividade que ali nascerá, os herdeiros dos expropriados querem fazer-se ouvir e recusam soluções imobiliárias.
"Se, porventura, alterarem a licença de utilização, deveria ser revertida a expropriação a favor dos seus proprietários antigos", nota a neta de um casal que foi expropriado na altura. À data, o terreno foi vendido por 42 escudos (21 cêntimos) o metro quadrado.
"Um tio meu, dono de outro terreno, não queria vender, esteve preso durante três dias e apanhou tareia", acrescenta. As pessoas "viram-se obrigadas a assinar o acordo", sublinha.
O terreno expropriado aos avós teria cerca de 30 mil metros quadrados. Fazendo as contas, terá sido vendido por cerca de 11 400 euros. Ao preço do mercado de hoje, e de acordo com imobiliárias consultadas pelo JN, se a zona tiver capacidade construtiva, esse mesmo terreno pode valer entre 75 e 90 milhões de euros.
Interesse público
"Acho que é injusto. Uma pessoa tem uma propriedade, chega o Governo - seja ele qual for -, e diz que, por interesse nacional, os terrenos vão ser expropriados para criar uma indústria que vai empregar centenas de pessoas. Se deixa de ter interesse público, e tendo a Câmara dado uma licença de utilização para indústria, o dono do terreno - que agora é a Petrogal -, vai beneficiar de milhões graças à especulação imobiliária, por uma coisa que, na altura, o Estado pagou a um preço irrisório", observa.
"Se o Município alterar a licença de utilização industrial para imobiliário", defende, os terrenos deveriam ser devolvidos aos antigos proprietários, que querem estar envolvidos no processo: "Gostaríamos de ter uma palavra na matéria. Ou de sermos pelo menos ouvidos", reforça.