Obras no Monte da Bela, em Campanhã, no Porto, terminaram há meses e começaram a surgir infiltrações e humidade, dizem os moradores. Câmara afirma que problema é da condensação.
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As paredes pintaram-se de negro por todo o bairro. Chama-se "Monte da Bela" e fica em Campanhã, no Porto. O nome contrasta com a deterioração no interior das casas que, dizem os moradores, surgiu após a obra de requalificação dos sete blocos, que terminou há pouco mais de quatro meses. Por esta altura, há casas onde "o bolor já nasce nas paredes". A empreitada custou ao Município 5,5 milhões de euros. As fachadas estão restauradas.
Aos relatos de infiltrações e dificuldades em respirar devido a "constante cheiro a mofo", somam-se queixas sobre a falta de sistemas de exaustão e ventilação. Há três anos que a caixa de escadas não tem luz e as campainhas não funcionam.
A Câmara do Porto diz que a colocação de caixilharias de alumínio e vidro duplo tornaram as casas "mais estanques" sendo, por isso, "necessário uma ventilação regular". Isto, "para que não ocorram condensações por excesso de humidade no interior das mesmas".
Virgínia Silva garante que "nunca viu as casas assim". O que, para Alberto Correia, de 50 anos, é fácil de explicar: "Este bairro é o parente pobre da Câmara". "O prédio está de cara levada e deixaram-nos assim. É horrível para quem tem problemas de saúde. E quem não tem passa a tê-los", lamenta o morador, assegurando a "maravilha" que sempre foi viver ali.
"Fartamo-nos de enviar e-mails e ninguém responde. Enviei para a Domus Social, que encaminhou para o apoio técnico. Esses dizem que é com a Domus", critica Elisabete Pereira, 36 anos. A Autarquia diz ter recebido apenas duas reclamações.
Tomadas desligadas
A casa de uma das vizinhas de Eva Campos, de 68 anos, já foram chamados os bombeiros para retirar água que tinha entrado num quarto. "Era tanta água que parecia uma levada", conta Eva. A Câmara diz que "não há infiltrações".
Há quem tenha desligado tomadas de certas divisões da casa para evitar estragos maiores. No final da obra, as instalações elétricas ficaram à vista de todos nas traseiras dos prédios.
"Fizeram pouco das pessoas que moram aqui. Esta era uma boa casa", entristece-se Adelaide Correia, de 71 anos. Asmática, critica a forma como as obras no seu bloco foram feitas: "Tudo à pressa. Estavam atrasados para acabar o trabalho. Agora o teto do quarto do meu neto está quase a cair".
Cenário mais dramático vive-se em casa de Maria Fernanda Ferreira, de 61 anos. É avó e durante o dia toma conta dos netos: uma bebé de quatro meses e um menino de quatro anos, numa habitação cheia de humidade.
Queixas
Sistema de ventilação ia resolver
O estado das habitações do bairro do Monte da Bela foi noticiado pelo JN duas vezes no ano passado. Os trabalhos de requalificação, que arrancaram em 2018, ainda decorriam. A Câmara do Porto afirmou que a situação melhoraria "com a colocação de grelhas de ventilação nas janelas e com o novo sistema de ventilação das casas de banho". Agora, sobre as queixas dos moradores, quanto à inexistência desse mesmo sistema, a Autarquia não respondeu, nem sobre a instalação elétrica pendurada.