Toque manual do sino já é feito por pouca gente e de idade avançada. Encontro tentou cativar pessoas.
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Aos 85 anos, Fernando Silva manuseia os sinos da igreja de Tibães, em Braga, de olhos fechados. São 40 anos a subir à torre para chamar o povo para missas, batizados, funerais e outros acontecimentos da paróquia. Diz que "não vai durar para sempre" e anda à procura de jovens a quem possa passar o legado. "Mas, agora, só querem ir para a política", lamentou o octogenário no primeiro Encontro Ibero-Americano de Sineiros, um evento que se espera que seja o ponto de partida para que mais pessoas se interessem pelo instrumento.
"O toque dos sinos marcou o pulsar da vida das populações. Existia o toque três vezes ao dia, que era o toque para ir para o campo trabalhar, o da hora do almoço e o da hora de recolher a casa. Tem uma função de comunicar e interagir", recordou Elisa Lessa, professora no Departamento de Música da Universidade do Minho e diretora da Associação Cultural SuonArt que, há três anos, estabeleceu um protocolo com a Câmara de Braga para fazer um levantamento musical de todas as freguesias do concelho.
O trabalho tem resultado numa exposição e concerto em cada freguesia, mas, em S. Victor, a mais populosa de Braga, a docente decidiu focar-se no património que são os sinos e, com a associação Tagus-Atlanticus, promoveu um encontro de sineiros "que procura chamar a atenção para este património e para o toque manual". "Com o Mundo atual, tem de haver um toque mecanizado, mas é importante preservar o toque manual, gostaríamos que os jovens aprendessem", sublinhou Elisa Lessa.
Empresa única
Carlos Jerónimo, sócio da Fundição de Sinos de Braga, única no país que se dedica à construção destes instrumentos, entende que os párocos devem ser os primeiros a incentivar os mais novos, "através dos escuteiros", exemplificou. O empresário, que está a tentar criar uma associação, estima que na Arquidiocese de Braga existam cerca de 20 pessoas dedicadas a esta arte. No país, apesar de ainda não ter sido feito um levantamento, aponta para cerca de uma centena, a maioria com idades avançadas.
"São poucos, porque não se valoriza este trabalho. É preciso que seja falado, reeducar as pessoas para o significado dos toques. Tem de se olhar para o sino como uma peça de arte, de escultura, com história", defendeu Carlos Jerónimo. "E não é difícil de tocar", concluiu o experiente Fernando Silva.