Famílias de acolhimento de idosos: "A dedicação é muita mas a compensação é pouca"
Luísa Pires acolhe em sua casa três utentes que foram encaminhados pela Segurança Social por não terem resposta familiar adequada.
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É com ternura que Luísa Pires, de 55 anos, fala dos seus três utentes enquanto família de acolhimento selecionada pela Segurança Social, função que exerce desde 2007. "A dedicação é muita, mas a compensação monetária é pouca", admite.
Quando começou a exercer esta função recebia 450 euros por idoso pelo seu trabalho, mais um valor que não consegue precisar para a alimentação de cada utente. "O que eu recebia quando comecei, 672 euros por pessoa, é quase o mesmo que recebo agora. Houve uma atualização baixa até 2009/2010, mas depois nunca mais aumentou, apesar de a inflação estar a subir, assim como o preço da energia. Torna-se complicado de gerir, pois passaram 17 anos".
Luís, António e Manuel vivem na casa de Luísa, na aldeia de Sortes, em Bragança, para onde foram enviados pela Segurança Social por não terem uma resposta familiar que lhes permitisse ficar nas suas terras, isto é em Sendim, concelho de Miranda do Douro, Carrapatas, em Macedo de Cavaleiros, e Castedo, em Torre de Moncorvo.
Agora fazem parte do agregado de Luísa, que vive com o marido. "Uma família de acolhimento acolhe idosos como nossos, mas no meu caso até nem são velhos: têm 45, 63 e 65 anos. O mais novo é portador de trissomia 21 e tive de ler muito para aprender a lidar com ele. Foi complicado porque nunca tinha lidado com uma pessoa com deficiência mental. São todos completamente dependentes de terceiros", afirma a cuidadora. Além do portador de trissomia 21, outro utente está numa cadeira de rodas e o terceiro deixou de falar devido a um problema de saúde.
A relação de proximidade que cria com estas pessoas é grande. "São nossos 24 horas por dia, 365 dias por ano. Eu gosto de cuidar deles, mas não é fácil. É um trabalho muito absorvente", afirmou Luísa Pires, que conta com a ajuda do marido quando este não está no trabalho.
Neste caso, trata-se de três casos sociais que, em vez de serem enviados para lares de idosos, foram encaminhados pela SS para uma família de acolhimento. "Tenho muito cuidado com eles. Dou-lhes banho quando a casa está mais quente porque cá o frio é muito. Fiz obras em casa para a adaptar de acordo com as necessidades de cada um deles, para que não se magoem ou fujam", referiu.
Desde os 39 anos que Luísa cuida de pessoas, muitas vezes acamadas. Fez uma formação em Cuidados para Idosos e trabalhou cerca de 20 anos no serviço de Medicina do Hospital de Bragança. "Eles [utentes] acabam por ser a nossa vida. Pouco tempo tenho para ir visitar a minha filha e os dois netos a Vila Real, onde moram", acrescentou.
Não sabe até quando estas pessoas ficarão à sua guarda. "Até que queiram ir embora ou morram", referiu. Antes de ser família de acolhimento, Luísa foi cerca de um ano cuidadora informal.
Está previsto que estas famílias possam pedir à Segurança Social o descanso do cuidador e têm direito a pelo menos a oito dias de férias por ano. No ano passado, Luísa conseguiu tirar apenas dois dias porque dois utentes foram para casa de familiares. O terceiro foi para outra família de acolhimento e teve de pagar do bolso dela.