Incerteza vivida há um ano deu lugar a um período de acalmia em Alcains. Além dos empregos diretos que cria, fábrica é forte dinamizadora da economia local.
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"A Dielmar é um pulmão de empregabilidade na vila". A afirmação é da presidente da Junta de Freguesia de Alcains, no concelho de Castelo Branco que, um ano depois da aquisição da insolvente pelo Grupo Valérius, afirma que "o medo passou".
Milena Santos recorda que "os trabalhadores que quiseram ficar continuam, outros aproveitaram para mudar de vida, mas o importante é que a empresa continua a crescer e a Valérius prossegue com o investimento". A autarca reconhece que "são as empresas que trazem as pessoas para a vila" e "houve receio que isso se perdesse". Até porque "há famílias inteiras que já trabalhavam e continuam a trabalhar na Dielmar, sendo esta a sua única fonte de rendimento".
O encerramento afetaria as famílias dos cerca de 200 trabalhadores que ali laboravam e a economia local, que também agora respira de alívio. Na Leitaria do Largo, durante o período de indecisão quanto ao futuro da empresa, Jorge Silva sentiu que os clientes "andavam muito assustados". Mas agora, "até aquelas pessoas que andavam sempre a queixar-se da vida, do trabalho, veem o copo meio cheio em vez do copo meio vazio". Admite que a dúvida não se traduziu numa efetiva redução de compras, mas "as pessoas vinham muito indecisas no que levar, porque o receio era que no dia a seguir não pudessem comprar".
A mesma sensação teve Luís Gonçalves, gerente do café restaurante Santo António. "As pessoas andam muito mais calmas. E a verdade é que a Dielmar faz muita falta a Alcains. A economia local estaria toda em causa se a fábrica tivesse encerrado. Seria uma grande machadada".
Fecho seria dramático
A própria população acompanhou com apreensão todo o processo de insolvência da Dielmar. José da Silva Barata, mais conhecido por "José Russo", vive quase paredes meias com a empresa. "Já teve dias melhores, mas a vida é assim. Agora mudou de donos, mas se fechasse era 100% pior". A mesma tranquilidade que é testemunhada por Carlos Gonçalves e Emília Cardoso. "Seria dramático se a empresa fechasse, quer para as famílias quer para a própria vila e para o comércio", diz Emília Cardoso. Carlos Gonçalves acrescenta que "não só perderia Alcains, como todas as aldeias próximas, porque há muita gente de fora que trabalha aqui".
Marisa Tavares, do Sindicato dos Trabalhadores do Setor Têxtil da Beira Baixa, acompanhou o processo desde a primeira hora e continua a fazê-lo mensalmente. "Já foram feitas algumas alterações na empresa, mas outras ainda estão a ser desenvolvidas". Neste recomeço, "não ficaram todos os trabalhadores, porque alguns também não quiseram, mas quem quis ficou e já entraram novos. Todos passam previamente pela formação e quem já a finalizou já está no quadro". A sindicalista admite que "mesmo não tendo sido o desfecho que se pretendia inicialmente (que era a continuidade, sem se ter chegado à fase de desemprego) esta solução foi muito positiva".