Os estudantes que vivem na residência universitária da Rua da Bainharia, em pleno centro histórico do Porto, receberam nesta segunda-feira as boas-vindas da Federação Académica e da Câmara. As duas entidades cooperaram na recuperação do edifício, num processo que esperam ver seguido por outros municípios.
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É no número 48 da Rua da Bainharia que se abre a porta para 40 estudantes bolseiros que, apesar de preencherem os requisitos, não tiveram vaga para alojamento através da rede pública da Ação Social. Vivem agora num prédio da zona da Sé que a Câmara cedeu à Federação Académica do Porto (FAP) por uma renda mensal simbólica e que foi alvo de uma remodelação profunda.
Na verdade, é Agustina Bessa-Luís quem recebe estes alunos, provenientes de vários pontos do país, incluindo as ilhas. Mal se entra, à direita pode ler-se na parede: "O Porto não é um lugar. É um sentimento". Detalhe, entre muitos outros, que dá ao granito do renovado edifício um toque de conforto. Porque conforto, para quem está longe dos pais pela primeira vez, é uma das formas de alcançar a integração na comunidade estudantil.
Disso mesmo deu nota Ana Gabriela Cabilhas, presidente da FAP: "Os primeiros tempos são essenciais para uma boa integração. Se a integração não for boa, há o risco de abandono escolar". Palavras deixadas à Imprensa no final da visita de boas-vindas que, da parte da Autarquia, foi protagonizada pela vereadora Catarina Araújo, vereadora que tem o pelouro da Juventude.
A Academia 24 - assim denominada em alusão ao Dia Nacional do Estudante, que se celebra, desde 1987, a 24 de março - é mista a vários níveis. Não só por albergar raparigas e rapazes, mas também por ter alunos do ensino universitário, do politécnico, do público e do privado. Além dos quartos e das normais comodidades, tem cozinha com armários individuais, espaço para exercício físico, uma área para trabalho em conjunto e zonas de laser.
A decoração é funcional e aprimorada. "Em boa hora a Câmara do Porto cedeu este edifício à FAP", referiu por diversas vezes a vereadora, ao longo da visita guiada por Ana Gabriela Cabilhas. Catarina Araújo salientou, por outro lado, que o local onde a residência se situa é "relevante e importante para o diálogo intergeracional".
Cabe à FAP fazer a gestão do espaço. A Câmara contribuiu com 75 mil euros para as obras de reabilitação e arrenda o prédio, pelo prazo de 30 anos, pela simbólica quantia de 50 euros mensais. A FAP, por seu lado, suportou o grosso do custo das obras - 450 mil euros - e o valor que cobra a cada estudante corresponde exatamente ao que esse mesmo estudante recebe a título de complemento de alojamento, valor que para o Porto foi fixado em 312 euros.
As duas responsáveis afirmaram que este modelo é "único e pioneiro". Segundo Catarina Araújo, a colaboração da Câmara surgiu da "consciência de que o alojamento a preços acessíveis é o principal obstáculo no acesso ao ensino superior". Por fim, expressou o desejo de que "sirva de exemplo para outros municípios". A expectativa de Ana Gabriela Cabilhas vai no mesmo sentido. "Esperamos que este modelo sirva de inspiração", disse a dirigente, para concluir que "se os estudantes conseguem proporcionar um trabalho em rede", Governo e instituições do ensino superior deviam fazer o mesmo.
"Os colegas também ajudam um pouquinho na saudade". Pela primeira vez longe dos pais, que vivem no Funchal, ilha da Madeira, Joana Sargo ainda há poucos dias chegou à residência e já sente a falta deles. Tem 19 anos, está a estudar Enfermagem e, por sorte, um dos irmãos vive no Porto. Sobre a sua nova casa, confessou que estava um pouco ansiosa por não saber "o que ia encontrar", mas os receios logo lhe passaram. Destaca a decoração, que "é muito acolhedora", e o facto de haver muito bom ambiente entre os estudantes.
Enzo Martins é um caso curioso. Definitivamente, é o mais alto da Academia 24 (mede dois metros e dois centímetros), tem apenas 17 anos e, a julgar pelo que os pais lhe disseram, foi o segundo bebé nascido em Portugal a ser registado com o nome próprio Enzo. Vindo de Loulé para estudar Física, ficou "bastante surpreendido com as instalações". Diz mesmo que a residência é muito confortável. "Parece que estou em casa", remata.
Outra aluna a frequentar o primeiro ano é Marla Cardoso, de 18 anos, que está a estudar História da Arte. Natural de S. Miguel, nos Açores, salienta as "ótimas condições" e a simpatia das pessoas da FAP e dos colegas. A centralidade - ali, estão perto do metro e de autocarros - é outra vantagem que todos referem.