Missas ao ar livre com 600 lugares sentados, réplica da santa, fogo de artifício no início e fecho da festa, iniciativas online e tradições da Ribeira vigiadas de perto pela PSP.
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Uma salva de morteiros por dia vai anunciar, a partir de hoje, esta edição atípica das festas de Nossa Senhora d"Agonia, em Viana do Castelo, divulgou ontem António Basto, da Comissão Executiva da VianaFestas, que anunciou ainda que no último dia haverá "um pequeno fogo de artíficio". Por causa da pandemia, a cidade que, noutros anos, fervilhava de gente, está serena como nunca.
Onde menos se nota a diferença é nas ruas da Ribeira, onde desde sempre a fé à santa move os corações e o povo não quer deixar de viver a sua festa de sempre ainda que limitado e triste. As fachadas das casas estão engalanadas com motivos marítimos e alusivos à santa, como manda a tradição.
Dentro das casas há quem tenha criado altares com a imagem da padroeira, correspondendo a um apelo do pároco. E amanhã, após a eucaristia de D. Anacleto Oliveira, a gente ribeirinha vai almoçar arroz de cabidela, cumprindo a tradição.
A parte religiosa manteve-se com a novena, que termina hoje, e duas missas campais junto ao santuário de Nossa Senhora d'Agonia com cerca de 600 lugares sentados. A primeira será amanhã, às 10.30 horas, com transmissão em direto nas redes sociais da VianaFestas, que desta vez organizou uma "festa (quase) virtual", e outra, à mesma hora no domingo.
Réplica da santa
No dia da procissão ao mar, uma réplica da santa será colocada no cais da Ribeira, para assinalar o momento de fé da comunidade.
Para que a romaria decorra em segurança, a presença da PSP nas ruas será reforçada, aliás, como o autarca de Viana tem vindo a apelar. "Estamos a viver um tempo em que nos sentimos ameaçados. Temos a nossa saúde em perigo, mas a vivência da fé, essa aí não está em causa. Portanto, vamos viver intensamente estas festas d"Agonia", disse o pároco de Monserrate, Vasco Gonçalves, onde se vivem os momentos religiosos d"Agonia e a devoção à padroeira dos pescadores reside em todas as casas.
"Ornamentámos como se houvesse festa, porque a "mãe querida" não nos sai do coração", comentou Ermelinda Chivarria, que habita no 116 da Rua Frei Bartolomeu dos Mártires, Monserrate. Nascida e criada na Ribeira, diz, emotiva: "Olhe, até lhe vou dizer uma coisa que parece mal: gosto mais da Senhora d"Agonia do que do Natal. Porque é alegria. A gente renasce nas ruas a ver os bombos, as músicas, o "ai ó larilolela". Tudo". E acrescenta: "Tenho rezado muito à senhora a pedir saúde e que esta peste desapareça".
qUADRAS À VARANDA
Na porta da frente, na "Casa do Nicha", vive Maria de Fátima Traila, que até quadras, escritas pela filha Conceição, pôs à varanda. "Mesmo sem romaria/ há uma missa campal/para que fique na história/e nos livre deste mal", lê-se nos corações pendurados. "Este ano é triste, mas por amor à Senhora d"Agonia decorámos na mesma. Nesta altura, esta rua já andava toda alvoroçada. Isto assim nem se compara. É muito difícil", afirmou, garantindo: "Dia 20 vou à missinha. Tenho pedido muita saúde, bom tempinho para os pescadores poderem governar a vida e que nos livre desta peste".v
Teresa Viana é a cara da romaria e a seu cargo tem o papel de lembrar a festa sem a realizar
Teresa Viana, 27 anos, natural de Vila Nova de Anha, cumpre este ano o desafio de protagonizar um momento único na história da romaria de Nossa Senhora d'Agonia de Viana do Castelo, cuja devoção data de 1751.
A jovem licenciada em Gestão é mordoma e rosto do cartaz da festa, sentada ao computador, simbolizando a única ligação ao Mundo recomendada, em tempo de distanciamento social. O desafio foi-lhe lançado pela amiga Ana Moreno, que foi rosto do cartaz em 2012 e a "contagiou" com o seu entusiasmo.
O fotografo Luís Lagadouro fez o resto, retratando-a na forma como vão ser celebradas as festas este ano. "Tínhamos noção que o computador era arriscado. É algo da atualidade, não do tempo das festas e há muita gente que ainda liga muito ao antigo. Houve críticas mas têm sido maioritariamente positivas. Já me disseram que possivelmente é o melhor cartaz de sempre porque nos adaptámos aos tempos. O pior é dizerem que é um atentado à cultura e à tradição", contou ontem, ao JN, após ter feito um direto, a partir do espaço de coworking "Link", que amanhã e depois vai fotografar "100 pessoas trajadas" para assinalar a romaria. Ivone Cruz, responsável do espaço, afirmou que a iniciativa é aberta "a mulheres, homens e crianças", e nasceu para "incentivar a que as pessoas se trajem mesmo não havendo festa de forma a dar cor à rua".
A mordoma Teresa contribuirá para o colorido, diz, com "um traje de domingar, que era o de ir à missa, rezar o terço, o de trabalho e de namorar". "Pensei que só ia ter que participar nas missas ou situações pontuais, mas de repente já se torna intensivo. Vou trajar todos os dias", comentou.
Um dos atos em que participará será o de apresentação dos cumprimentos às autoridades religiosas e civis, depois de amanhã. O autarca de Viana do Castelo, José Maria Costa, que será o anfitrião, destaca a importância do cartaz. "Entendi que o devíamos manter. Era importante que as pessoas se lembrassem que de 19 a 23 temos a romaria d'Agonia, independentemente da festa não se realizar nos moldes dos anos anteriores", declarou, comentando que o cartaz "foi uma agradável surpresa, porque foi ao encontro do que eram as nossas preocupações de se poder traduzir as festas de uma forma diferente".
Havemos de ir a Viana
A canção imortalizada por Amália Rodrigues surgirá este ano recriada por artistas da região num vídeo que será publicado às 19.30 horas de hoje nas redes sociais da VianaFestas.
Trajes e segurança
O autarca de Viana reforçou o apelo para que as pessoas "se passeiem trajadas pela cidade, sem ser em grupo" para dar colorido às ruas. E aos restaurantes e cafés para que cumpram "as regras da DGS" e "maior presença da PSP na rua".