Obra de Santa Zita, na Póvoa de Varzim, avisou por email. Pais revoltados. Há mais instituições em risco no país.
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A Obra de Santa Zita vai fechar a creche e o jardim de infância da Póvoa de Varzim. Alega motivos financeiros. Os pais das 119 crianças foram informados por email na sexta-feira. Estão indignados e, com matrículas fechadas e novas regras de distanciamento, receiam não encontrar alternativa. No país são já pelo menos quatro os casos de instituições de apoio à infância que não resistiram à pandemia. Teme-se que, a partir de junho, sejam mais.
"É inaceitável! Fomos informados por email! Vindo de uma IPSS (Instituição Particular de Solidariedade Social), não percebo onde está a solidariedade", diz José Novais, que tem na creche a filha de três anos.
"Situação deficitária"
No dia 18, depois de dois meses sem crianças, a Obra de Santa Zita abriu portas. Dia 20 publicava no Facebook notícias do regresso na Póvoa: "Um dia, que toda a gente comentava que iria ser delicado, tornou-se num dia simples e cheio de alegria. Ninguém chorou! Ninguém estranhou!". Dois dias depois, o "balde de água fria", via email: "O equipamento da Póvoa de Varzim vai encerrar definitivamente no próximo ano letivo".
"Onde é que vai haver vaga para 119 crianças?", questiona Cristina Macedo. Mãe de um menino de três anos, explica que vários pais manifestaram o desagrado no Facebook da instituição.
A Direção da Obra, com 15 equipamentos no país, diz que a Póvoa tem "há uns anos" uma "situação deficitária". Agora, "ponderadas todas as alternativas", "os custos elevados de manutenção, a necessidade de avultados investimentos na adaptação das acessibilidades, a instabilidade do número de utentes e a manifesta insuficiência dos financiamentos, inviabilizam a continuação". "É uma decisão dolorosa, mas necessária para não pôr em risco a sustentabilidade da instituição", remata a missiva enviada aos pais, assinada pela presidente, Maria do Céu Simões.
Os pais garantem ter tentado falar com a Direção. Dizem que ninguém os quer ouvir. Criaram uma petição online, que conta com 259 assinaturas, e fizeram um abaixo-assinado, que farão chegar à Câmara da Póvoa e à Direção da instituição. Querem respostas. Durante dois meses, apesar de fechada, a Obra continuou a receber o apoio do Estado (274 euros/criança/mês no caso da creche). Os funcionários estiveram em lay-off (com financiamento do Estado). Agora, vai despedir 21 pessoas. Os pais acham "estranho" e questionam "a legalidade". O JN tentou ouvir a instituição, mas sem êxito.
Muita preocupação
A Confederação Nacional das Instituições de Solidariedade diz não ter, por agora, notícia de outros encerramentos, mas Filomena Bordalo explica que "há pais a cancelar as matrículas" e isso pode significar "mais problemas a curto prazo". A Associação de Creches e Pequenos Estabelecimentos de Ensino Particular (ACPEEP) conta "três casos" (em Felgueiras, Oeiras e Algés), mas "o teste de fogo será em junho". Com o fim do apoio aos pais (de crianças até aos cinco anos), a 1 de junho, diz Susana Batista, da Associação, "é que se vai ver quantos meninos vão, de facto, regressar".
Dificuldades
600 euros por mês em máscaras
Em Portugal, há 2750 creches. Mais de 70% são IPSS. Quase 600 são privadas. A ACPEEP teme pelo futuro e explica: "Os custos com a pandemia são enormes! Por exemplo, numa creche com 20 funcionários são 600 euros por mês em máscaras. Fora os desinfetantes e as despesas acrescidas com limpeza", conta a presidente, Susana Batista.
"Durante estes dois meses, houve creches que não conseguiram cobrar nem metade das mensalidades. Pedimos ao Estado que nos ajudasse com 150 euros por criança. Foi-nos sempre negado", lamenta a dirigente.