Foi a primeira a avançar e, para já, não há outras mostras previstas. Boa adesão no primeiro fim de semana deixa artífices satisfeitos.
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"É a nossa sobrevivência e a de muitos artesãos!", atira Abílio Cardoso, abrindo o sorriso. Aos 68 anos, o artesão da Trofa faz a Feira Nacional de Artesanato (FNA) de Vila do Conde desde o início. Este ano, é "particularmente especial": com os números da pandemia a subir, a FNA foi a única que arriscou avançar e, para os artesãos, há quase dois anos fechados em casa, é o ansiado regresso e um "balão de oxigénio importantíssimo". O primeiro fim de semana "superou as expectativas". A 43.ª edição da FNA fica até 8 de agosto.
Para a grande maioria, conta Abílio, as feiras são a "montra" e o "cartão de visita" que garante trabalho o resto do ano: "São as vendas e, às vezes até mais importante do que isso, são os contactos que fazemos nestas feiras", frisa. No stand, que divide com a mulher - também ela artesã, mas de trabalhos em feltro -, há quadros de ardósia, mobiles em forma de gaivota, cordas, carros, piões de madeira e tantos outros brinquedos tradicionais.
Todos os anos, Abílio fazia "as maiores e mais credíveis feiras de artesanato do país": a FNA, em Vila do Conde, a Fatacil, na Lagoa (Algarve) e a Festival Nacional de Gastronomia, em Santarém. Em 2020, "foram todas canceladas". Este ano, só Vila do Conde avançou. Estava "desejoso de regressar" e agradece-lhes a "coragem".
Regras apertadas
Nos jardins da Avenida Júlio Graça há, este ano, menos stands - os 200 artesãos habituais passaram a 120 -, semáforos à entrada a controlar a lotação, setas no chão para obrigar a um sentido único de visita, dispensadores de álcool-gel a cada canto, uma "praça" da alimentação com mais mesas no exterior, a fim de garantir o distanciamento e evitar gente a comer enquanto visita a feira, e não há folclore ao vivo à noite.
Aqui e ali, veem-se jovens de "mochila" às costas e borrifador em punho. Desinfetam bancos e mesas e as mãos de todos quantos encontram pela frente.
Mantêm-se os dois restaurantes - um dos quais com as jornadas gastronómicas, que, até ao final da feira, irão percorrer todas as regiões do país - e as sandes de queijos e presuntos. Os doces ficam, agora, a meio do espaço: dois de um lado, dois do outro "para evitar ajuntamentos".
"A segurança e as questões do distanciamento foram a nossa maior preocupação", explicou ao JN Saraiva Dias, o presidente da Associação para Defesa do Artesanato e Património de Vila do Conde, que, em parceria com a Câmara, organiza o certame. Quando decidiram avançar, conta, os artesãos ficaram "eufóricos" e a adesão foi "quase imediata".
Hoje, não poupam nos elogios: tudo "muito limpo", "sempre gente a controlar", "uma decoração bonita", "o mesmo rigor de sempre na escolha dos participantes". Do barro aos couros, passando pela cestaria, tapeçaria, bordados ou peças em madeira, o critério foi, ainda que com menos artesãos, manter a FNA "o mais diversificada possível".
Quem visita bate palmas ao evento que "anima" a cidade, quem expõe vê, ao fim de dois anos, "uma luz ao fundo do túnel".
À margem
Promove renda de bilros há 43 anos
A Feira Nacional de Artesanato de Vila do Conde foi criada em 1978, pela Câmara, com o objetivo de promover as rendas de bilros, a velhinha arte local, à época, em risco de extinção. Realiza-se anualmente na última semana de julho e primeira de agosto. Em 2020, pela primeira vez em 43 anos, não houve feira.
Limite de 400 pessoas
A feira não pode receber mais de 400 visitantes em simultâneo. Por isso mesmo, à entrada há um sistema digital de contagem e um semáforo que fica vermelho sempre que aquele número é atingido. Depois, há que esperar que saíam uns para outros poderem entrar. À semana, abre às 17 horas. Ao fim de semana, às 15. Fecha às 22.30 horas.