Festival literário do Porto arranca a 28 de agosto, dando o tiro de partida na programação cultural da cidade pós-pandemia. O certame volta a coincidir com a Feira de Lisboa.
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Há sete anos, quando a Feira do Livro do Porto trocou maio por agosto e os Aliados pelos jardins do Palácio de Cristal, refletiu-se ali sobre a liberdade e o futuro - a reflexão fazia sentido num momento em que Portugal começava a querer dar os primeiros passos de saída da crise financeira - e homenageou-se Vasco Graça Moura (1942-2014), plantando na Avenida a primeira tília com nome próprio, num gesto simbólico já inscrito no ADN do maior festival literário da cidade.
Este ano, com o país novamente em crise, sanitária e económica, a Feira do Livro do Porto, que decorrerá entre 28 de agosto e 13 de setembro, volta a debruçar-se sobre a liberdade e sobre o futuro, mas num ângulo diferente, "com nova gravidade", e em tempo real. A crise ditada pela pandemia ainda não foi estancada e, por causa disso, o mundo mudou. Se o futuro parece um quarto escuro, é importante voltar a discuti-lo.
"Queremos refletir sobre a consciência e as liberdades cívicas, sobre o espaço comunitário, as transformações sociais, sobre a reaprendizagem do espaço público. Como voltaremos a viver uns com os outros? O que podemos fazer para cuidar do outro? Como reaprenderemos os gestos? A folhear um livro? A estar numa plateia? Como reaprenderemos a fruição?", questiona Nuno Faria, diretor do Museu da Cidade, responsável por homogeneizar a edição deste ano nas suas diferentes vertentes programáticas. Desde logo, o cartaz paralelo - quase fechado, assegura, mas ainda secreto -, que contempla um ciclo autónomo de cinema, exposições, debates e colóquios. Este ano, a aposta é também na simultaneidade de eventos, para colmatar uma lotação necessariamente menor.
Feira no feminino
Sem revelar o nome de batismo da tília de 2020, Nuno Faria avançou, no entanto, ao JN, que a flor distinguirá uma mulher. E que todo o festival está focado no feminino. "Teremos a presença de muitas figuras femininas, mulheres fortes da literatura e da ciência."
O certame literário vai também recuperar a "predominância da palavra dita, da voz na sua vocação de ligação entre os seres humanos." Também por isso, tornou-se inescapável resgatar as "conversas situadas" das celebrações de 24 de Agosto de 1820, Revolução Liberal do Porto, iniciadas em janeiro, e cujo programa foi"ensombrado" pela morte de Pedro Baptista, comissário geral da iniciativa. "Todas as conversas sobre os 200 anos da revolução liberal que, como todas as revoluções, nasceu na clandestinidade - neste caso, nas caves - antes de chegar à rua, ganham, no atual contexto, uma nova relevância, numa demonstração evidente de que um indivíduo faz a diferença."
Lisboa, em simultâneo
Este ano, e pela primeira vez desde que a Feira do Livro do Porto passou a estar na agenda de verão, o certame coincidirá com o de Lisboa, que excecionalmente arranca a 27 de agosto.
"São dois modelos diferentes, convivem bem", desvaloriza Nuno Faria, assegurando que a maioria dos editores estará presente nos dois acontecimentos, ambos com 90 anos. De resto, o Porto privilegia também a presença de alfarrabistas, cooperativas e pequenas estruturas independentes. As inscrições para a participação terminam na próxima sexta-feira, dia 6 de junho,
A decisão da Câmara Municipal do Porto de realizar a feira foi "consciente" e obedeceu a uma premissa essencial. "Dar um horizonte de esperança às pessoas, numa altura em que se sente a ânsia de retomar a atividade cultural. A feira é o ponto de partida dessa programação cultural da cidade pós-pandemia."