O candidato do movimento "Fazer à Porto" alega que sente o apoio de Rui Moreira. Filipe Araújo acusa Pedro Duarte de ser escolhido pelo diretório de Lisboa, diz não estar alinhado com Pizarro e não revela com quem vai dialogar. O "vice" da Câmara promete espaços verdes na VCI, 200 policias municipais e duas mil casas.
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Apresenta como mais-valia da sua candidatura o facto de não ter qualquer "amarra ideológica e partidária". Porque o Porto não deve voltar a ser governado por um partido?
Bem, é claro que uma candidatura independente tem na sua gênese precisamente isso. Estamos a falar de cidadãos que não têm na mente um partido ou uma ideologia. Juntam-se porque gostam do Porto, porque querem fazer algo pelo Porto. E, portanto, quando falamos que não temos amarras ideológicas ou diretórios partidários, estamos a dizer coisas tão claras como, por exemplo, a nossa candidatura não foi decidida em Lisboa. A nossa candidatura é do Porto e dos portuenses.
Quem tem candidaturas decididas em Lisboa?
Claramente, que houve candidatos que foram decididos em Lisboa, nos diretórios partidários que estamos habituados a ver governar o país. Tivémos um candidato que se apresentou às eleições numa reunião do Governo no Bolhão. É um exemplo claríssimo daquilo que é uma apresentação que está centrada e gerida a partir de Lisboa.
Foi por isso que não quis integrar a lista de Pedro Duarte?
Nós sempre olhamos para esta candidatura como uma lógica para os próximos anos de governação da cidade. A gestão da cidade dos últimos 12 anos foi uma gestão independente e isso tem claras mais-valias para aquilo que foi o sucesso da cidade. A cidade transformou-se imenso nos últimos anos, a cidade desenvolveu-se a nível cultural, é muito mais coesa a nível social, foi capaz de atrair investimentos como nunca antes tinha conseguido, criar dezenas de milhares de postos de trabalho e tudo isso tem na sua gênese a gestão independente. Nunca poderia abdicar dessa gestão.
É vice-presidente da Câmara e líder da associação que, de certa forma, lançou o movimento de Rui Moreira. Contava surgir nas sondagens com 5%?
A grande sondagem que me interessa mesmo é a do dia 12 de outubro. Essa é a sondagem que todos nós estamos focados e para a qual todos nós, envolvidos nesta candidatura, vamos trabalhar.
Seria mais vantajoso ter ao seu lado Rui Moreira?
Não falo em nome do Rui Moreira, nunca falei. Intimamente, sempre senti o apoio dele, isso é um facto, mas compete a ele falar sobre ele. Serei sempre leal, a minha lealdade é indiscutível com o projeto que abracei e serei sempre leal até o último dia do mandato.
Mas teria outro peso o movimento se o Rui Moreira tivesse uma posição mais ativa e até se associasse?
Acho que a lógica de continuidade está bem presente. Sou vice-presidente de Rui Moreira há oito anos, há 12 anos que acompanho a política sendo vereador, o que me dá responsabilidades acrescidas. E o próprio Rui Moreira já teve a oportunidade de dizer que a lógica de me ter como vice-presidente durante oito anos diz muito sobre a relação que temos.
Pedro Duarte tem dito que está alinhado com o PS. Tem um entendimento com Manuel Pizarro ou é mera fantasia?
Claramente uma fantasia. Mas, acima de tudo revela muito como os partidos funcionam. Os partidos tentam passar esta ideia de bipolaridade que não existe. Aliás, o Porto, ao longo dos anos, escolheu sempre o movimento independente porque achou que era aquele que iria gerir melhor os seus destinos. Somos um movimento que está interessado no Porto e não estamos aqui para ser mais uma bandeirinha a dizer que ganhamos mais uma cidade e a nível nacional fomos campeões das autárquicas.
Se ganhar as eleições com maioria simples está mais receptivo a entendimentos com Pedro Duarte ou Manuel Pizarro?
O resultado das eleições irão ditar precisamente o que os portuenses querem ver realizado. E, portanto, eu serei, de certa maneira, um fiel depositário daquilo que for a vontade dos portugueses. No dia 12 de outubro, eles decidirão aquilo que será melhor para o futuro do Porto. E eu tentarei corresponder às suas ambições e àquilo que eles demonstraram.
Em relação ao Chega, está disponível para dialogar?
Uma vez já me fizeram uma pergunta semelhante sobre isso. Eu disse que não aceitaria o apoio do Chega, mas somos um movimento muito aberto. Não questiono qualquer pessoa que faz parte do movimento se é do Partido X ou do Partido Y. Portanto, temos uma grande abertura para que todos que se identifiquem com o projeto possam participar.
Mas seria possível um diálogo com o Chega, se a vontade eleitoral for dar uma dimensão significativa a esse partido?
Teremos que ver quais são as propostas que os vários partidos vão apresentar. Na realidade, aquilo que me interessa é que haja uma continuidade de uma gestão que tem trazido benefícios para os portuenses. Não me custa olhar para uma gestão sem ter uma maioria. Não me parece que isso seja absolutamente crítico. Portanto, se houver possibilidade de fazer entendimentos com partidos, cá estaremos para ver se isso for benéfico e for na sequência daquilo que os portuenses tiverem, de certa maneira, ditado pelo seu voto.
Nesse âmbito, tem dito que a gestão municipal deve de apostar agora na qualidade de vida dos portuenses. Que medidas propõe para tal?
O cidadão portuenseestá muito preocupado numa série de questões que lhe afetam a sua vida. As pessoas sabem que o Porto é uma cidade com qualidade e nós queremos que essa qualidade seja preservada. Temos que fazer uma aposta na proximidade, nos jardins, nos parques, nas praças, na lógica de comunidade, mas também garantir que continuamos a ter água a preços acessíveis e benefícios para quem cá mora. Os portuenses sabem que podem contar com o IMI mais baixo do país, com o cartão Porto Ponto para o acesso à cultura, com o acesso ao desporto, até na mobilidade nas viagens gratuitas. Portanto, temos um conjunto de benefícios que elevam a qualidade de vida da cidade para patamares que temos que continuar a preservar e a continuar a aumentar. Não podemos é voltar para trás. Há algumas curiosidades em questão da habitação...
Precisamente na habitação, prometeu umas 1.400 ou até 2.000 casas no próximo mandato. Isto será só habitação social ou conciliado com o arrendamento acessível de imóveis requalificados?
A habitação social é significativa e poderá haver algum acrescento, mas não será o nosso foco. O que preocupa os portuenses é o acesso da classe média à habitação, que está dificultado por preços elevados. Temos cerca de 400 casas em arrendamento acessível. Nos próximos quatro anos, teremos cerca de 1.400 casas que estão projetadas, algumas iniciaram até já obras, e que iremos disponibilizar à cidade. Poderemos aumentar até cerca de 2.000 habitações. A habitação acessível é extremamente importante. Mas também queria ser muito claro. O problema da habitação não é exclusivo do setor público. Temos que ter os privados a ajudar neste desígnio público. E, para isso, criaremos uma task force, uma equipa especializada para ajudar os privados a implementar os projetos de habitação acessível.
Outro problema da cidade é a questão da mobilidade. Diz que a VCI é o pior problema ambiental da cidade e defende a construção de novas zonas de habitação e zonas verdes naquela zona. É um projeto para quantos anos?
A VCI é uma via de contínuo impasse. Ao fim destes anos todos, nenhum Governo conseguiu implementar qualquer medida que consiga reduzir aquilo que é o problema ambiental, de saúde, um problema que causa grandes transtornos na vida dos portuenses. Queremos abrir esta via de diálogo com o Governo, uma via verde, digamos assim, para resolver aquilo que é uma grande ferida aberta na cidade. Temos que o fazer, implementando as medidas que já conhecemos há 10 meses, para conseguir retirar aqueles pesados que atravessam a via e que poderiam seguir outros caminhos como o da CREP, desportajando a CREP ou implementando outras medidas que há muito ouvimos falar e que ainda não ganharam vida. A VCI é uma autostrada que não é gerida pelo Governo e que divide a cidade. Há algum tempo que estamos a trabalhar com a Universidade do Porto para olharmos para aquele território. Por exemplo, se olharmos para o nó de Paranhos é relativamente fácil perceber que é possível, não modificando a VCI, colocar uma tampa e em cima e dessa tampa conseguirmos construir novos parques infantis, jardins, parques de desporto e até alguma habitação nas suas margens. Acabamos por ter ali um novo espaço de qualidade e não um fosso por onde passam centenas de milhares de carros por dia. Temos a intenção de olhar para este projeto a 10 anos. Os projetos estratégicos devem ter uma visão sempre de uma década.
E para incentivar os pesados a usar a CREP deve-se portajar a VCI?
Todos os veículos que atravessam pela VCI, que venham de Norte para Sul ou de Sul para Norte, e que poderiam ser incentivados a ir pela CREP, temos que usar todos os mecanismos possíveis para os incentivar. Os incentivos podem ser portagens, desportagem da CREP... há variadíssimos mecanismos que têm que ser obviamente medidos e que não coloco de parte. Nós sabemos que, a nível do sistema interurbano de mobilidade da cidade, existem portagens mal localizadas. Portajamos as circulares e desportajamos as radiais. Não conheço nenhuma outra cidade onde isso aconteça. E esse sistema que está mal montado induz um forte afluxo de trânsito à VCI. Portanto, quando falo das várias medidas que têm que estar em cima da mesa, todas essas medidas já foram estudadas, nenhuma foi implementada até agora. E temos que exigir que sejam implementadas.
Ao nível da segurança, tem defendido a Polícia Municipal passe de 200 para 400 efetivos. Tendo em conta que desde o Governo de António Costa que estão para ser aprovados 100, como tenciona atingir essa meta?
Ao nível de segurança, sabemos claramente que o Porto é uma cidade segura. E, portanto, o sentimento das pessoas tem que também corresponder a este valor que sabemos da cidade, uma cidade segura. Mas, para isso, precisamos de ter mais polícias. Os polícias municipais são essenciais, porque um polícia municipal, apesar de não ter competências de segurança, é um polícia presente na rua, o que é capaz de induzir esse sentimento de segurança. O que queremos é duplicar a capacidade da Polícia Municipal, que hoje é exígua, porque nunca viu suprido sequer os 100 polícias prometidos há muitos anos por vários governos. Esta parte da polícia é muito importante. A lógica da polícia de comunidade, que nós também queremos promover, onde o Polícia Municipal contacta com as pessoas, contacta com os centros de dia, vai às escolas, é algo muito importante. Queremos ajudar a percepção de segurança seja criada, recuperando a figura do guarda noturno.
Mas como é que vai conseguir convencer o Governo de aprovar 200?
A nossa função é diálogo e exigência. Um Governo não pode ser autista. Tem que estar atento à vontade das pessoas. E as pessoas já várias vezes demonstraram a necessidade de termos mais polícias na rua. Do lado do Município do Porto, aquilo que dizemos ao Governo é que ajudaremos no que for necessário para encontrar essa solução. Serei muito exigente para que o Governo cumpra com aquilo que é a vontade dos portuenses. O Porto é uma cidade segura. Agora, temos que olhar para o que é o sentimento de segurança, claramente motivado por vários fenómenos que sabemos existir, como, por exemplo, o tráfico de droga que induz a pequena criminalidade.
A propósito da toxicodependência, Rui Moreira defendia a criminalização do consumo na proximidade de locais como escolas. Concorda? O Porto tem um problema com a Pasteleira...
O tráfico de droga é um problema que existe na cidade, existem várias cidades pelo mundo fora e tem vindo a crescer. Nós sabemos disso e infelizmente tem vindo a crescer. O que importa é ter uma política de combate a esse tráfico de droga. Temos que claramente assumir esse desígnio sob pena de não diminuir e continuar a provocar todos os outros efeitos que sabemos e que são extremamente nefastos. Temos uma política de auxílio a todas as pessoas que, de certa maneira, acabam por cair nas malhas da toxicodepenência e isso também tem que ser um desígnio. Mas também temos que exigir que haja um ataque claro à toxicodependência.