Seis estudantes finalistas estão desde março a tratar à distância doentes recuperados de covid com complicações respiratórias.
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Estudantes do curso de fisioterapia do Instituto Politécnico de Setúbal (IPS) estão a tratar à distância doentes que ficaram com sequelas respiratórias da covid-19 e não encontram resposta para o acompanhamento após alta hospitalar.
As sessões de reabilitação respiratória são gratuitas e levadas a cabo, desde março, por seis estudantes finalistas que realizam assim o seu estágio. Os doentes são 25 e há lugar para mais 15. A inscrição pode ser feita através do website da Inspiro, associação que com o IPS promove as sessões.
Tiago Fernandes, 53 anos, de Lisboa, recebe tratamento via Google Teams três vezes por semana pelos estudantes Pedro Moreira e Patrícia Guerreiro. "Estive internado com covid duas semanas no início de fevereiro numa unidade privada e, quando saí, deram-me folhas com exercícios de fisioterapia respiratória para fazer em casa". O lisboeta, que realizava BTT e fazia orientação antes de ter covid 19, descobriu a iniciativa e logo se inscreveu. Faz os exercícios com o acompanhamento dos estudantes e com outros doentes via remota e já se sente bastante melhor.
Os exercícios são essencialmente de fortalecimento muscular dos membros superiores e torácicos. "Ajuda bastante ser acompanhado desta forma, há uma sistematização e motivação que não existia quando realizava os exercícios sozinho, sem acompanhamento".
a aprender todos os dias
A fisioterapia cardiorrespiratória adaptada à covid 19 é completamente nova. Margarida Sequeira, coordenadora do curso, diz que "todos os dias há novos estudos publicados, mas ainda estamos a apalpar terreno, aplicando os exercícios que existem para o tratamento de outras patologias a esta nova doença". Margarida afirma que por ser uma doença nova, "não se sabia muito bem o que ia acontecer aos doentes após a alta e começou-se a perceber que estas pessoas mantinham os sintomas e necessitavam de recuperar, sem que os serviços existentes em Portugal estivessem preparados".
Madalena Gomes da Silva, subdiretora da Escola Superior de Saúde do IPS, considera que "o mercado que existe, as instituições e as estruturas de saúde não conseguem dar resposta a este problema pela sua dimensão e, por isso, a escola dá o seu contributo". O IPS quer transformar a iniciativa num projeto de investigação para "partilhar com os outros o que estamos a aprender dia a dia porque sabemos todos pouco sobre este assunto", afirma.
Pedro Moreira e Patrícia Guerreiro são dois dos estudantes que conduzem os tratamentos, orientados pelo fisioterapeuta Renato Reis. Pedro Moreira diz que "a evolução dos doentes tem sido bastante interessante". "A prática de exercício regular é o mais importante para a recuperação e vejo que melhoram a cada dia". Patrícia Guerreiro nota que "as sequelas são bastante diferentes das que existiam. Não sabemos quanto tempo demoram, sabemos que são longas, nem como medir a melhoria dos utentes, entre outras dificuldades".