Multiplicaram-se novas espécies arbóreas na Invicta. Em espaços públicos, como nos nós dos grandes eixos viários, ou em áreas privadas, como quintais e jardins, ganha forma uma área verde imensa que ajuda a combater os desafios ambientais do futuro.
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Está a crescer uma floresta urbana no Porto. Nos últimos anos, mais de 11 mil novas árvores e arbustos de diferentes portes e tamanhos passaram a fazer parte da paisagem. Até dezembro, o objetivo é que sejam plantadas mais 2300.
A meta foi traçada pela Câmara e está plasmada no projeto FUN Porto - Florestas Urbanas Nativas no Porto - que pretende contribuir para que se atinja a neutralidade carbónica até 2030, eliminando 85% de emissões até lá. "As florestas urbanas ajudam a reduzir a temperatura - especialmente durante as temporadas de calor - a sequestrar carbono e a regular a água durante eventos tempestuosos, o que evita inundações", explica ao JN Filipe Araújo, vereador do Ambiente e da Transição Climática. "Além disso, são decisivas para a diversidade e baixam os efeitos do stress nos cidadãos, o que ficou bem visível durante a pandemia", acrescenta.
Dividido em vários processos, o FUN Porto tem na Rede de Biospots um dos principais componentes. Esta é constituída por 14 áreas distribuídas pelos principais eixos viários de circulação ao longo de 17 hectares onde foram e vão continuar a ser colocadas árvores nativas.
"Até ao momento, foram plantadas 1953 em seis nós da VCI", revela o também vice-presidente da Autarquia. Medronheiros, pilriteiros, murtas e bétulas, entre outros, vão ganhando vida em locais onde antes apenas imperavam automóveis, cimento e alcatrão. Assim esteja concluído o processo, será possível reter 50 toneladas de carbono por ano, prevê a Câmara.
Outro dos processos do FUN Porto é a iniciativa "Se tem um jardim, temos uma árvore para si", destinada a moradores e associações que pretendam instalar nos seus domínios privados até dez espécies à escolha, atribuídas gratuitamente pela Autarquia. Segundo apurou o JN, a quinta edição, cujas candidaturas se encontram atualmente em fase de análise, contou com 610 pedidos, num total de 2633 árvores solicitadas. Nas anteriores quatro, foram entregues 9000 exemplares.
Parques e jardins essenciais
Maria Cristina Sousa, investigadora da Faculdade de Psicologia da Universidade do Porto e moradora na zona de Francos, foi uma das munícipes que aproveitaram para dar vida ao seu jardim de 200 metros quadrados. "Foi da forma que consegui plantar bastantes espécies autóctones portuguesas, como pilriteiros, jasmins do monte, bétulas, macieiras-bravas e cedros. É bom saber que também estou a contribuir para criar mais oxigenação à cidade", considera.
Para a floresta urbana da Invicta conta ainda a rede de espaços arborizados da cidade, o mais recente dos quais é o Parque da Asprela, inaugurado a 20 de março. Oito parques municipais e uma dezena de jardins, a que se junta o Viveiro Municipal, onde desde 2014 foram produzidas 75 mil diferentes espécies, de lá saídas para depois serem plantadas, em grande parte (50 mil), nas serras da Área Metropolitana e assim contribuírem para o projeto intermunicipal Futuro, que tem como objetivo instalar 100 mil árvores na região ao longo dos próximos anos.
O conceito de floresta urbana não é novo, mas demora a fazer caminho em Portugal. "Começou nos países do Norte da Europa, onde existe uma cultura verde muito acentuada", situa Domingos Lopes, diretor do Departamento de Ciências Florestais e Arquitetura Paisagista da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD). "Trata-se de algo verdadeiramente estruturante para a promoção da qualidade de vida nas cidades e para o desenvolvimento da biodiversidade. Por cá, porém, excetuando bons exemplos como o Porto, Lisboa ou Guimarães, não existe sensibilidade política para essa prática", sublinha o também vice-presidente da Fundação do Côa.
Para Domingos Lopes, falta em Portugal o "enquadramento legal necessário" para integrar e fomentar a prática e multiplicação de florestas urbanas pelos diferentes territórios urbanos. "O estrato arbóreo pode ter papel fundamental na anulação de aspetos negativos de planeamento. No fundo, pode desenhar as cidades com vegetação. Poesia urbana, portanto", define o especialista.
Encontrar espaço
Paulo Farinha Marques, arquiteto paisagista e professor na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, foi o autor do mais recente parque urbano do Porto, o da Asprela. "As florestas urbanas podem ajudar a criar cidades mais sustentáveis. Infelizmente, a nível nacional estamos ainda numa fase incipiente desse processo", lamenta.
Segundo Paulo Farinha Marques, a densidade verde em áreas urbanas é importante "para mitigar o contínuo aumento da população e da poluição e assim ajudar a travar o grande desafio ambiental que temos pela frente". A grande interrogação, diz, "é encontrar espaço para instalar as árvores". Nada de impossível, considera o professor, basta que exista "vontade para isso", até porque, de contrário, "será impossível viver nas cidades" num futuro muito próximo.