Uma troca na identificação de dois corpos na morgue no Hospital de Faro levou a que um cidadão francês fosse cremado contra a vontade da família. O outro falecido era de nacionalidade britânica. O Conselho de Administração do Centro Hospitalar Universitário do Algarve (CHUA) assumiu ter havido "uma falha grave" e pediu a demissão.
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O caso levou a que já fosse aberto um inquérito interno no hospital, ao passo que a Entidade Reguladora da Saúde também está a averiguar as circunstâncias em que o erro foi cometido.
A troca dos cadáveres ocorreu na passada quinta-feira. O corpo do cidadão francês foi levantado por uma agência funerária e encaminhado para o crematório de Albufeira. A cremação já tinha ocorrido quando foi detetado o engano.
O JN sabe que o instrutor nomeado para liderar o processo de averiguações interno já ouviu os funcionários da morgue e os familiares dos falecidos. A este instrutor cabe a elaboração de um relatório, com eventuais propostas de medidas disciplinares, e entregá-lo à administração, que tomará a decisão final. No entanto, fonte hospitalar assegurou que já foi identificado o turno e as pessoas envolvidas neste caso, bem como os procedimentos obrigatórios que não foram cumpridos.
O protocolo em vigor na morgue tem definidas várias regras que os funcionários são obrigados a cumprir antes da entrega dos corpos às agências funerárias. Um deles é o reconhecimento dos cadáveres. Este protocolo foi instituído depois de já terem ocorrido situações anteriores em que houve trocas das identificações (ler caixa).
Ontem, em comunicado, o CHUA confirmou que "abriu um inquérito interno, depois de ter sido detetada uma falha grave na morgue, que gerou uma troca na identificação dos corpos de dois doentes falecidos no Hospital de Faro". Situação que "levou a que um dos corpos fosse indevidamente recolhido pela agência funerária para cremação, tendo esta já ocorrido", acrescentou.
Apoio à família
A administração garantiu que "contactou as famílias, lamentando profundamente o sucedido e tendo disponibilizado todo o apoio e suporte psicológico necessários".
Fonte oficial do Ministério da Saúde disse, ao JN, que "a prioridade não é o pedido de demissão, mas acompanhar o assunto, que constitui um drama humano irreparável". Já a Entidade Reguladora da Saúde esclareceu que "procedeu à abertura de um processo de avaliação das circunstâncias da ocorrência".
Depois de este caso ter sido tornado público, os deputados do PSD, eleitos por Faro, exigiram "uma investigação profunda sobre o que esteve na origem da troca de dois cadáveres" e lamentaram a situação que, dizem, "em nada significa o Algarve, o Serviço Nacional de Saúde e o país". "Depois de o Conselho de Administração ter colocado o lugar à disposição exigem-se responsabilidades políticas pelo ministro da Saúde", referem os parlamentares.
O JN questionou a Procuradoria-Geral da República sobre a abertura de um eventual inquérito, mas não obteve resposta. A agência funerária que procedeu à cremação recusou prestar esclarecimentos.
Outros casos
Troca descoberta após o funeral
Em maio de 2020, uma troca de corpos na morgue do Centro Hospital Universitário do Algarve, em Faro, levou três filhos a velar e enterrar uma mulher que acreditavam ser a sua mãe. Só depois das cerimónias fúnebres concluídas, o erro foi descoberto.
Família enterra cadáver errado
Em 2017, o Hospital de Portimão trocou o cadáver de duas idosas. Durante o velório, a neta ainda referiu que não reconhecia o cadáver, mas o funeral seria realizado. O erro só seria assumido no dia seguinte.