Rui Moreira poderá, afinal, candidatar-se a um terceiro mandato. Francisco Ramos, líder da direção da associação cívica "Porto, o Nosso Movimento", anunciada pelo presidente da Câmara em dezembro, diz-se "plenamente convencido" de que o autarca se recandidatará, se não conseguir implementar o programa dos independentes em oito anos, prazo que já admite ser difícil de cumprir face ao que diz ser "um bloco central" no Porto com objetivos nacionais.
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Prevê assim que Moreira possa concretizar o projeto "em 12 anos", apesar de ter garantido que sairia em 2021. Revela ainda a existência de militantes do PSD e do PS no Conselho Consultivo.
O movimento independente surgiu há cinco anos. Porquê criar agora uma a associação cívica?
Tem vários objetivos. Desde logo, e assumimos "mea culpa" nisso, pretende fazer algo que deveríamos ter feito no mandato anterior: criar condições para organizar e agregar todos aqueles que se identificaram com o movimento nos últimos cinco anos. Queremos também escrutinar de forma construtiva se o manifesto eleitoral está a ser cumprido pelos principais protagonistas escolhidos para o implementar, como eleitos à Assembleia Municipal, vereadores e o próprio presidente da Câmara. Vamos ainda acompanhar os principais projetos e dar contributos a esses protagonistas. Temos uma associação verdadeiramente livre, independente, não partidária, que agrega pessoas da Esquerda, da Direita, com partido e sem partido. Todos aqueles que estejam verdadeiramente empenhados em construir um Porto de futuro cabem nesta associação.
Foi criada em dezembro. Quantos associados já tem?
Neste momento, são 300 e muitos. Mas estamos a cumprir um plano de atividades de forma rigorosa. E sempre que há uma atividade o número de associados cresce. Mas temos ainda outro propósito que é funcionar como escudo do presidente da Câmara, algo que também não funcionou bem no primeiro mandato. Não havia nenhuma estrutura que, de modo organizado, pudesse fazer o papel de escudo político que têm todos os protagonistas das restantes forças.
Em que casos faltou esse escudo?
O que aconteceu no Porto há cinco anos foi histórico, como voltou a ser agora pela questão da maioria absoluta contra os maiores partidos. Mas uma das belezas deste movimento é a sua desorganização e informalidade. Não tínhamos a experiência que outros têm nesta luta política diária que se faz na cidade. E houve momentos em que o presidente de Câmara ficou um pouco desprotegido.
Fora da gestão autárquica, o que traz esta associação à cidade?
É exatamente conseguir, pela primeira vez, reunir uma série de pessoas que têm um único propósito comum, a defesa dos interesses da cidade, e que não a usam como porto de passagem ou com outros objetivos políticos. Só estamos aqui pelo Porto. E não vamos sair daqui. Muitas vezes, os que foram protagonistas na cidade infelizmente voaram para outras paragens e esqueceram as origens.
Quer dizer que não admitem integrar listas de partidos para europeias ou legislativas?
Só temos o propósito do Porto, nada de europeias ou legislativas, ou de constituição de partidos.
Trocar a palavra partido por movimento na designação visa acentuar o cariz independente?
Exatamente porque, fora do ringue das eleições, queremos que os portuenses saibam que não temos qualquer interesse em formar um partido. Assumimos este compromisso desde o início. E para isso, em termos comunicacionais, achamos que seria mais fácil deixar cair a palavra partido. O movimento que elegeu Rui Moreira extinguiu-se de acordo com a lei.
A associação pretende também descolar do CDS-PP?
Não sentimos essa necessidade. O CDS tem tido um papel relevante no movimento e na governação da cidade. No Conselho Consultivo liderado por Miguel Pereira Leite, que vamos anunciar em breve, temos militantes do PS e do PSD.
Como por exemplo?
Daqueles que já são sócios, posso revelar-lhe o nome de Vasco Ribeiro, que era assessor de imprensa do grupo parlamentar do PS, e de Sérgio Vieira, que foi líder da Concelhia do PSD quando este partido era vitorioso na cidade.
O objetivo é o movimento poder ter vida para além de Moreira?
Independentemente de todos os méritos da associação, o seu principal protagonista e líder é Rui Moreira. E o título de presidente do Conselho de Fundadores evidencia isso mesmo. A associação quer ser um complemento, não se esgota no presidente da Câmara, nem se extingue com a sua futura saída. Tendo este movimento um número tão relevante de associados e conseguido unir pessoas de quadrantes tão distintos, faz todo o sentido que se perpetue.
Mas a associação admite um projeto autárquico com outro protagonista, já que Rui Moreira anunciou que sai em 2021?
Não é isso que nos preocupa neste momento, mas sim que o nosso manifesto seja implementado. A adesão é crescente e estou profundamente convicto de que se houvesse eleições hoje seria ainda maior, os portuenses estão agora a ver concretizar-se alguns projetos que estavam no papel.
Há condições para implementar esse projeto sem maioria na Assembleia Municipal?
Infelizmente, o Porto tem servido como balão de ensaio numa estratégia de bloco central que vem das eleições e se tem agudizado. Rui Moreira falou sobre isso na noite das autárquicas. Essa coligação negativa, que não sei se terá o objetivo de bloco central nacional, está a tentar criar dificuldades não legítimas à governação. A empresa municipal da cultura é um exemplo flagrante de união entre o PSD e o PS numa matéria em que sempre tiveram opiniões distintas. Essa coligação negativa é um mero xadrez político nacional. Os interesses do Porto estão a ficar subjugados. E há uma coisa que lhe quero dizer: não vamos deixar ficar o nosso projeto a meio. Perante esta coligação negativa, a minha opinião é que se não conseguirmos, como pensávamos, concretizar esse legado em oito anos, se Rui Moreira não o conseguir fazer, fá-lo-á em 12.
Isso quer dizer que Rui Moreira poderá, afinal, candidatar-se a novo mandato em 2021?
Conhecendo tão bem Rui Moreira como conheço e sabendo que não vai deixar ficar esta missão e este projeto a meio, estou plenamente convencido que se não conseguir implementar este programa em oito anos, Rui Moreira o implementará em 12 anos. Levaremos o nosso projeto até ao fim.
Contestação das Juntas não foi feita de forma genuína
A estratégia passa por criar pontes com o PSD? A escolha de Luís Osório para representante na Casa da Música gerou polémica.
Todos os que têm um papel político na cidade e estejam disponíveis para contribuir para a implementação do manifesto são bem-vindos.
Neste caso, trata-se do líder do Núcleo Ocidental do PSD.
A versão que tem sido construída é que o convite visa influenciar o seu sentido de voto na Assembleia Municipal (AM). Ele já disse que não. É dito por PSD e PS que não terá currículo para o cargo. Meia dúzia de dias antes, tinha sido proposto pelo PSD para representar a Câmara no Agrupamento de Centros de Saúde do Porto Ocidental. Não é médico. E apresentou-o como número quatro à AM. Por outro lado, é líder do núcleo mais importante onde estão notáveis como Rui Rio, Paulo Rangel e Pedro Duarte. Manuel Pizarro aceitou ser representante da Câmara no Instituto de Biologia Molecular e Celular e ninguém veio dizer que ia deixar de votar com a sua consciência. O mesmo se passou quando Álvaro Almeida foi convidado a título pessoal por Rui Moreira para o Conselho Económico.
Como vê a contestação unânime dos presidentes de junta, a reclamarem mais apoio de Moreira?
Esse assunto foi contaminado pela questão do atraso dos vencimentos no Centro Histórico. A relação de Rui Moreira com os presidentes de junta é normal. Querem mais competências e meios, o que também defende o presidente da Câmara perante o Governo. Mas as coisas não foram feitas de forma genuína e isso não nos agradou. Foi entregue uma carta supostamente pessoal a Rui Moreira e 24 horas depois, sem espaço para resposta, foi tornada pública. Só teve o propósito de ser tornada pública.