Câmara de Braga fala em habitação acessível em urbanização e nega transferências de outros bairros.
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A intenção do Município de Braga de construir habitação social num terreno que detém na Rua Edgardo Sá Malheiro, em Ferreiros, deixou os moradores da zona em sobressalto. Num abaixo-assinado que circula também pela freguesia vizinha de Aveleda, a população mostra-se contra aquilo que entende que será um "bairro social" e não confia na versão da Autarquia, que garante que os apartamentos darão resposta a casos de carência de famílias daquelas freguesias.
"Já vou pôr o meu apartamento à venda. Falaram-me de um bairro social e que vinham pessoas de etnia cigana de outros bairros. Tenho medo. São grosseiros", desabafa Nair Lopes, na esplanada de um café onde está Fátima Murta, uma comerciante que também subscreveu o abaixo-assinado. "Disseram-nos que vinha gente dos bairros do Picoto e de Santa Tecla e, com isso, vem o tráfico, a violência e criminalidade", considera, expressando "preocupação com a segurança" de uma urbanização "pacata".
Gente trabalhadora
"Temos consideração por pessoas carenciadas, gente que trabalha. Mas não são essas que vêm para cá, não são pessoas de bem", atira um morador, que preferiu não ser identificado, com casa construída há poucos anos e onde depositou "todas as poupanças". "Estão a mentir-nos. Não serão casas para pessoas da zona", acrescenta, admitindo querer vender a sua moradia, com vista para o terreno municipal.
De acordo com a vereadora Olga Pereira, a Estratégia Local de Habitação (ler texto ao lado) prevê, naquele local, a construção de 38 fogos, de T1 a T4. Cerca de 70% da capacidade vai dar resposta a famílias de Ferreiros e freguesias vizinhas, como Aveleda. O resto do espaço vai acolher pessoas de freguesias próximas, como Maximinos, Sé e Cividade. "Se conseguirmos obter financiamento, sabemos as pessoas que estão destinadas àqueles apartamentos", assegura a responsável, negando a deslocação de pessoas dos bairros sociais já existentes, como o Picoto, que deverá ser requalificado.
O presidente da Junta de Ferreiros, João Costa, diz acreditar na versão da Câmara, mas confessa que a população "está revoltada". "Recebo todos os dias mais de dez telefonemas sobre isto", confidencia o autarca.
Além do abaixo-assinado que circula pelo comércio local, foi criada uma petição online - "Impedir a criação de um bairro social em Braga" - que contava com mais de 270 subscritores, à hora do fecho desta edição. "Este tipo de empreendimentos em nada beneficia as pessoas envolvidas e está perfeitamente demonstrado que a sua criação apenas estimula comportamentos sociais nocivos", argumentam os autores.
Projeto
45 milhões para poder dar casa a 781 famílias
O concelho de Braga tem 781 famílias, num total de duas mil pessoas, que vivem sem condições de habitabilidade, segundo a Estratégia Local de Habitação, que vai ser votada na reunião do Executivo, depois de amanhã. De acordo com a vereadora Olga Pereira, deverá ser necessário um investimento "de 45 milhões de euros" para acudir a todas as situações. O documento, que foi atualizado em relação à versão votada no último mês, é condição obrigatória para que a Autarquia possa aceder a financiamento do Governo. Segundo a vereadora, o número de famílias com habitação indigna passou de 735 para 781, porque o relatório acrescentou propriedades do Instituto de Gestão Financeira da Segurança Social, além de necessidades identificadas pela Cruz Vermelha, pela cooperativa ECG e pelas juntas de freguesia. A solução para o problema passará pela reabilitação de casas existentes, a construção de novas habitações, aquisição de prédios urbanos ou rústicos e um novo centro de acolhimento para pessoas sem abrigo.