A dona de um restaurante na Índia instalou à porta um frigorífico para deixar as sobras do dia, para quem precisasse fosse lá buscar durante a noite. O conceito popularizou-se e, hoje, é prática comum pelo Mundo fora. Em S. João da Madeira, o "frigorífico solidário" chegou no início de dezembro. Está no Centro Coordenador de Transportes, aberto a toda a gente: qualquer pessoa pode deixar lá comida para que quem precisa.
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Basta descer as escadas do Centro Coordenador para dar de caras com o frigorífico. "A verdade é que vamos pondo coisas e elas desaparecem. Significa que as pessoas levam. E há alturas em que vemos coisas que não fomos nós que pusemos", diz Helena Couto, presidente da Junta de Freguesia, que pôs o projeto em prática e vai abastecendo o frigorífico. "Havia um medo implícito de que ia ser tudo vandalizado, mas não é isso que está a acontecer", congratula-se.
Aberto até às 22 horas
A ideia não é nova, mas há poucos pelo país. "O frigorífico solidário só existe em outros dois pontos. Em Alcântara, Lisboa, e na freguesia do Muro, na Trofa", explica Joana Correia, diretora do Centro Humanitário da Cruz Vermelha de S. João da Madeira, que candidatou a ideia ao Orçamento Participativo da Junta, depois de visitar a freguesia do Muro. "Estranhei ter lá um frigorífico por não haver controlo. Pensei: então e as pessoas não tiram? Percebi aí que se trata também de educar a sociedade".
O projeto nem sequer exigiu investimento, já que uma empresa da cidade cedeu o frigorífico, que está num sítio discreto do Centro Coordenador. "É um espaço central e está aberto até às 22 horas. Está num local visível, mas sem ser ostensivo", diz Helena Couto, que já recebeu telefonemas de pessoas com dificuldades a pedirem para tirar coisas do frigorífico. "Expliquei que não tinham que pedir autorização. Esperamos que haja civismo".
Curiosamente, no dia da inauguração, um casal pediu-lhe dinheiro. "É para comer?", perguntou. "Disseram que sim e trouxe-os logo cá. Tinha pão de forma e iogurtes. Levaram quatro, porque não precisavam de mais".
Agora, quem passar pelo Centro Coordenador de Transportes, pode aproveitar para deixar os iogurtes que tem em casa a passar do prazo. A ideia é ajudar sem-abrigo e não só. "Temos ideia de que esta é uma cidade rica, mas há muita pobreza. Está escondida e isto serve para colmatar a vergonha de recorrer às instituições", diz Joana.
Muitos sem-abrigo
São João da Madeira é o segundo concelho de Aveiro com mais sem-abrigo identificados. Qualquer pessoa pode recorrer ao frigorífico, num espírito de corresponsabilização entre a comunidade e quem mais precisa.
IPSS envolvidas
A Junta de Freguesia procurou envolver a comunidade, passando por todas as IPSS e área social da Câmara, no sentido de alertarem famílias carenciadas sobre a existência do frigorífico.
Que produtos deixar?
No frigorífico podem deixar fruta, legumes, leite, produtos frescos embalados como queijo e fiambre, enlatados, iogurtes, sumos, água, compotas. Também congelados ou refeições pré-cozinhadas no congelador.
