Temperaturas negativas em meados de setembro provocaram quebras na castanha na ordem dos 90%.
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Teotónio Monteiro junta as mãos cheias de castanhas acabadas de apanhar num souto perto de Carrazedo de Montenegro, em Valpaços. "Olhe que lindas!". As coisas estão a correr bem. "Há aqui muita e boa". A uma dúzia de quilómetros dali, na área da Serra da Padrela, Amílcar Malta tem soutos junto à aldeia da Junqueira que "estão todos queimados". "Nem 10% da produção vão dar", lamenta. A culpa, justifica, "foi das temperaturas negativas que vieram em setembro".
Este ano agrícola não foi igual para todos os produtores de castanha das terras de Montenegro, mas, ao todo, a região vai deixar de ganhar alguns milhões de euros. "Num ano normal produzem-se quase 12 mil toneladas, mas em 2021 a colheita deve ficar entre seis e oito mil", refere Amílcar Malta.
Considerando que os produtores vendem cada quilo a preços entre 2,5 e 3 euros, facilmente se conclui que os prejuízos são avultados.
Em anos normais, Teotónio Monteiro colhe entre cinco e sete toneladas de castanha. Lembra o ditado antigo que reza que "a castanha deve ferver no ouriço nos primeiros três dias de agosto e crescer durante o mês de setembro. Só que este ano viu que agosto começou com "dias de denso nevoeiro" em algumas zonas daquela região, que "é tudo o que o castanheiro não quer, pois o que ele gosta mesmo é de calor".
A juntar ao frio de setembro, com madrugadas com dois a quatro graus negativos, alguns soutos foram afetados por um fungo que se instalou nas folhas e nos ouriços, deixando-os secos precocemente e afetando o crescimento do fruto.
Faltou boa prática
Lino Sampaio, da AgriFuturo, recorda que associação emitiu alertas para que os produtores tratassem os soutos, mas nem todos os fizeram. "Se tivessem tido uma boa prática agrícola teríamos um superano de produção".
Porém, Filipe Pereira, da Associação Regional dos Agricultores das Terras de Montenegro, contrapõe que os tratamentos feitos nas zonas afetadas pelo frio "não adiantaram nada", pois "as folhas dos castanheiros mantêm-se verdes, mas a castanha não existe".
Feira dedicada está de volta em novembro
Depois de no ano passado não se ter realizado, devido à pandemia de covid-19, a Feira da Castanha Judia de Carrazedo de Montenegro regressa nos dias 5, 6 e 7 de novembro. A vereadora da Câmara de Valpaços, Teresa Pavão, está confiante que o certame poderá atrair "cerca de 50 mil visitantes", desde que o tempo e o contexto pandémico o permitam. As regras de segurança vão ser apertadas. Vão participar 65 expositores, 50 dos quais são do concelho, muitos deles com castanha e produtos confecionados com ela.