Dez das 18 trabalhadoras do Centro de Acolhimento Temporário (CAT) de Crianças de Viseu, que encerra portas esta quarta-feira, exigiram a sua recolocação noutra resposta social da Santa Casa da Misericórdia viseense.
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A valência fecha hoje após cerca de 30 anos de atividade. As 17 crianças que viviam no CAT começaram a ser retiradas no início da semana, num processo que fica terminado esta quarta-feira. Os menores, até aos sete anos, foram distribuídos por outras instituições de Viseu e de Lamego e por famílias de acolhimento.
O CAT encerra depois de a Santa Casa viseense alegar perdas de 700 mil euros nos últimos cinco anos. Para o desemprego vão as 18 funcionárias da valência.
Contra o seu despedimento, ao final da manhã, uma dezena de trabalhadoras concentrou-se junto ao CAT, com o apoio do Sindicato de Hotelaria do Centro.
"Este foi o pior Natal da minha vida por deixar as crianças, mas também por ter de abandonar o meu posto de trabalho. Não estava à espera disto, só muito recentemente é que alguém da instituição nos veio comunicar que o nosso futuro seria mesmo o despedimento", disse aos jornalistas Teresa Alves, trabalhadora do CAT de Viseu há 17 anos.
A mais antiga das funcionárias não escondeu a revolta, lamentando que ela e as colegas estejam a ser tratadas como números após "o muito" que deram das suas vidas à Misericórdia.
Teresa Alves e as restantes manifestantes só querem continuar a trabalhar. "Reivindicamos a nossa colocação nas várias valências que a Santa Casa tem. Tem muitos locais para nos colocar e não querem. Nós sabemos que há falta de pessoal nas várias valências. Sinto que nos querem descartar. Não têm consideração e respeito por nós", criticou.
Também Teresa Domingos, com nove anos de CAT, lamentou o desfecho da valência. "Perdi uma família, todas temos um carinho muito grande pelas crianças, o ambiente de trabalho é espetacular e foi sem dúvida um Natal para esquecer, soubemos nas vésperas que íamos ficar em casa", afirmou, falando ainda numa situação "incompreensível".
"O nosso desagrado é não tentarem e não haver uma palavra mantermos o nosso trabalho porque são várias famílias que ficam desamparadas, e da maneira como está tudo", acrescentou.
Afonso Figueiredo, presidente do Sindicato de Hotelaria do Centro, criticou, em declarações aos jornalistas, a atuação da Misericórdia. "Achamos que esta postura não é a correta. As 18 trabalhadoras foi com surpresa que receberam esta notícia do encerramento, com mais surpresa ainda porque amanhã deixará de haver crianças nesta valência e às trabalhadoras nada foi dito em relação ao dia de amanhã", frisou.
Ao JN, o provedor da Santa Casa de Viseu, Adelino Costa, já tinha afirmado que a instituição não podia absorver esta mão de obra, pelo que ia avançar com um despedimento coletivo.
"Fui falar com as trabalhadoras há uma semana e foi terrível, mas não há alternativa. Não podíamos ficar com elas porque não precisamos dessas pessoas nas outras valências", disse.