Homem de 75 anos morreu de uma queda na Senhora da Hora. A irmã está internada num lar e não aparece mais nenhum parente.
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Era reservado, cumprimentava os vizinhos só com um bom dia ou uma boa noite. António Manuel Coelho, 75 anos, vivia no bairro das Campinas, Porto, com a irmã Carolina, igualmente idosa. Metia-se manhã cedo no metro e ficava-se pela Senhora da Hora. Foi num desses passeios que o homem caiu, ficou bastante maltratado e foi levado para o Hospital de Santo António, onde ficou internado. Um vizinho, pessoa empática e preocupada, foi visitá-lo e ficou a saber que o quadro clínico de António não era nada bom. Morreu no dia 4.
O vizinho procurou pela irmã e veio a descobrir que D. Carolina estava internada num lar na Lombra. Não conseguiu falar com ela mas percebeu que a mulher teria Alzheimer e deixou de ligar o telemóvel. "O meu compadre (o vizinho dos irmãos) só queria ter alguém para comparecer no funeral, alguém quem lhe deixasse uma flor", explicou ao JN Inês Carneiro, proprietária da Funerária da Prelada, que, a partir daí, decidiu tratar da burocracia e do funeral. Por isso, foi à morgue do Hospital de Santo António, onde levantou o corpo. "Foi uma caridade, ou seria enterrado como um indigente, e ele não merecia isso", adiantou Inês Carneiro. O funeral foi anteontem, às 19 horas e o corpo foi a enterrar na secção 18, na campa 189 em Agramonte.
"Não fizemos cerimónia religiosa porque não havia familiares ou amigos", lembra a proprietária da funerária. E mais: "Foi num caixão no qual eu enterraria alguém da minha família".
Busca continua
Mas a história não pára aqui. Enquanto o vizinho continua a procurar um familiar ou amigo (além da irmã doente que não se pode mover), alguém que vá orar sobre a sua sepultura e lhe deixe uma flor, INPS Carneiro ligou para as juntas de freguesia de forma a que a Domus Social, dona do bairro, não deixe
que haja pilhagens na apartamento, do qual D. Carolina já não consta como habitante.
"Casos tão infelizes como este não acontecem muito, mas casos de indigentes são bem mais. Mas não negamos ninguém. Mesmo que não tenham feito descontos em vida, não deixamos ninguém por enterrar", concluiu Inês Carneiro.