Ginásio Clube Mirandelense quer retirada de utilidade pública à Federação de Kickboxing
É já a 14º gala de kickboxing cancelada em Mirandela e sempre com a mesma justificação: "falta de árbitros disponíveis". Clube diz que se trata de retaliação depois de vencer processo judicial contra a Federação e pede a demissão da presidente, Ana Vital Melo.
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A direção do Ginásio Clube Mirandelense (GCM) está revoltada com a Federação Portuguesa de Kickboxing e Muaythai (FPKM) porque, mais uma vez, decidiu não homologar uma gala da modalidade, que neste caso estava agendada para o dia 4 de maio, na Arena José Pina, em Mirandela, promovida pelo clube liderado pelo antigo campeão do mundo de kickboxing.
Segundo o GCM, desde março de 2018, esta é já a 14ª recusa da federação a galas organizadas, em Mirandela, e sempre com a mesma justificação da falta de disponibilidade de árbitros.
Isto é confundir o interesse público com querelas particulares
Para a advogada do GCM, esta conduta da presidente da federação deve-se "a uma espécie de retaliação por querelas judiciais já terminadas", mais concretamente, pelo facto de José Pina ter ganho a batalha judicial contra a Federação sobre a legalidade do registo de marca nacional do "Aerokick IntensYtive Mix". Para Paula Borges, isto "é confundir o interesse público com querelas particulares e que colocam em causa a própria modalidade".
A advogada diz mesmo que a Federação não tem suporte legal para justificar que não há árbitros. "É surreal que durante um ano, todos os árbitros da federação, que são cerca de 40, nunca estivesse disponíveis para marcar presença em Mirandela. Se fosse assim, pelos estatutos, já deviam ter sido suspensos e até expulsos", sustenta.
Paula Borges dá conta de outro episódio sintomático de que a justificação de indisponibilidade dos árbitros é falsa: "Na inauguração da arena José Pina, não foi homologada a gala, por falta de árbitros, mudou-se o nome do evento para encontro de kickboxing e estiverem presentes vários árbitros e a federação brindou-os com processos disciplinares extensivos aos clubes e aos atletas que estiveram presentes", conta.
Estão a ser lesados os interesses dos atletas do clube
Perante mais esta recusa em homologar uma gala, o GCM emitiu um comunicado na sua página do Facebook, onde pede aos treinadores, clubes, atletas, e até ao Município de Mirandela, que manifestem total repugnância em relação às consecutivas e reiteradas decisões da federação.
Paula Borges admite que o clube pondera intentar uma ação judicial para que seja retirado o estatuto de utilidade pública da federação e pedir uma indemnização pelos danos causados ao GCM. "Estão a ser lesados os interesses dos atletas do clube que veem as suas expetativas de competição goradas, depois de tanto esforço nos treinos", adianta.
Esta conduta da Federação já levou o GCM a expor o assunto junto das instâncias competentes e recentemente o secretário de Estado da Juventude e Desporto notificou o clube de que o assunto já foi reportado ao IPDJ, revela a advogada.
Presidente admite relações tensas mas nega qualquer retaliação
Confrontada com estas críticas, a presidente da Federação nega que sejam as querelas judiciais que estejam por trás das decisões de não homologar as galas. "Não temos árbitros profissionais, mas apenas amadores. O que fazemos é enviar um email a pedir a disponibilidade deles, dado que se tratam de eventos privados, que não fazem parte do calendário nacional, pelo que se os árbitros não se mostrarem disponíveis, não faz parte dos requisitos", diz Ana Vital Melo que não tem a certeza de que sejam tantas galas adiadas por esse motivo.
"Acho um exagero, mas não sei, sinceramente, essas coisas administrativas passam-me ao lado. Mas, para ser a 14ª vez, teriam de fazer todos os meses. Normalmente, Mirandela fazia um evento por ano, significaria que não fazia há 14 anos".
Ana Vital Melo não nega que as relações entre a Federação e o Ginásio Clube Mirandelense estão longe de serem cordiais, mas que estas decisões não têm nada a ver com qualquer eventual retaliação. "O Ginásio Clube Mirandela está sempre a dizer mal da Federação, na pessoa do treinador, está sempre a denegrir a minha imagem, mas isso não tem nada a ver com os árbitros", garante.
Clube pede demissão da presidente
Depois destas declarações, o GCM entende que Ana Vital Melo passou a ideia "que desconhece o que se passa na instituição e que não consegue por ordem no conselho nacional de arbitragem".
Pelo que, a advogada Paula Borges conclui que Ana Vital Melo "não tem condições para se manter ao leme da Federação, devendo demitir-se". A advogada do GCM desafia a própria presidente do Município de Mirandela a juntar-se ao clube nesta reivindicação, tal como fez, recentemente, com o pedido de demissão do inspetor-geral da ASAE, alegando estar a lesar os interesses económicos do concelho. "Deve-se fazê-lo na defesa dos interesses do próprio Município, relativamente às questões de âmbito desportivo", sustenta.