A preto e branco ou a cores, é de arte que se fala. E quem decide fazer a primeira, mesmo que a faça tarde, dificilmente consegue parar. Porque "o bichinho" das tatuagens, que até domingo promete levar milhares de pessoas ao Pavilhão Multiusos de Gondomar, dificilmente se perde.
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No Oporto Tattoo, que vai já na 5.ª edição, participam mais de 200 tatuadores de todo o Mundo. E muitos são os clientes que, ano após ano, escolhem a data da convenção para fazer mais uma tatuagem. E uma obra mais elaborada pode chegar aos mil euros.
Num ambiente descontraído, em que os curiosos podem conhecer os tatuadores e aproveitar para assistir a todo o processo de criação artística, a organização espera receber, nos três dias do evento, cerca de seis mil visitantes.
Nos últimos anos, "o mundo das tatuagens teve um boom muito grande", explica ao JN a tatuadora Lara Amorim, que participa no Oporto Tattoo desde a primeira edição. Ainda assim, os profissionais dizem que é preciso continuar a desmistificar esta arte. Mostrando ao público, por exemplo, que a dor sentida no momento da tatuagem, afinal, "não é assim tão difícil de aguentar". Ou, ainda, que há pessoas com mais de 70 ou 80 anos que continuam a gostar de gravar coisas no corpo. Com ou sem um significado especial, não faltam opções.
Gondomar
Homenagens ao avô gravadas na pele
Aos 14 anos, Sérgio Vilares já experimentava fazer tatuagens. "Com o bico do compasso e um bocadinho de tinta da China", lá surgiam os primeiros esboços daquela que viria a ser a sua profissão. Hoje, aos 41 anos, o tatuador de Rio Tinto, Gondomar, é um dos organizadores do Oporto Tattoo. E na loja Vilares Vintage Tattoos, que fica no número 420 da Rua da Ponte, atende os clientes. Para as mulheres, Sérgio explica que "o que está mais na moda são coisas muito pequeninas e todas a preto", o chamado "black work". Já os homens, normalmente, escolhem tatuagens em tons de cinza e preto. "E eu sou muito procurado porque faço trabalhos em aguarela", acrescenta. Quanto ao tipo de público, o tatuador não tem dúvidas: "Não há idade para as tatuagens. E, mesmo que alguém faça a primeira depois dos 50, dificilmente consegue parar".
Aos 25 anos, Ricardo Meneses, decidiu fazer a 13.ª tatuagem. "Conheci o Sérgio através de uns amigos e, como quase nem senti a primeira, a partir daí continuei a marcar mais", conta o cliente, adiantando que todos os desenhos têm um significado. "A maior parte das minhas tatuagens são para o meu avô que faleceu. São feitas para ele e a pensar nele", partilha o jovem. Normalmente, os desenhos demoram "três ou quatro horas" e, apesar de ter um número ímpar, Ricardo garante que não se vai ficar pelas 13. "Tenho a certeza que vou fazer mais".
PORTO
"Uma dor que vale a pena"
De desenhadora projetista a tatuadora profissional. Este foi o percurso de Lara Amorim, 34 anos, hoje conhecida como Lara Wings. O fascínio pela arte de gravar desenhos na pele surgiu "em miúda". E a certeza de que devia tentar a sorte na profissão nasceu assim que lhe fizeram as primeiras tatuagens.
"Quando me fizeram a primeira, não a consegui ver porque era nas costas. Mas oito dias depois fiz a segunda e quando a vi pensei logo que não devia ser algo tão complicado que eu não conseguisse tentar". Tentou e conseguiu. E são muitos aqueles que a procuram na Inktoxica Tattoo, na Rua do Almada, no Porto.
Quanto ao facto de ser mulher num mundo maioritariamente masculino, Lara assegura que isso não é um problema. "Os homens acham engraçado e têm curiosidade. E as mulheres procuram-me porque se sentem mais à vontade". Numa arte com caráter tão definitivo, a confiança é muito importante. No caso de Lara, há clientes que confiam a ponto de não verem o desenho antes do momento da tatuagem. Foi isso que aconteceu quando Sara Rodrigues, 38 anos, foi à loja "para tapar" uma pequena tatuagem com outra nova. "Ela mandou-me umas ideias do que queria e eu desenhei", explica a tatuadora.
Para a cliente, "mais importante do que o desenho" é a tatuadora. E, no que diz respeito à dor, até isso tem um lado positivo. "É uma dor que vale a pena porque temos um resultado bonito no nosso corpo". No final, de sorriso rasgado, Sara acrescenta: "Chega a um ponto em que deixamos de gostar de ver a nossa pele limpa".
GAIA
De Guimarães para fazer uma fénix
Adriana Pimenta, 20 anos, já tinha duas tatuagens no braço quando decidiu arriscar e fazer "a maior de todas" - uma fénix, na barriga. Natural de Guimarães, a jovem conheceu o trabalho de Carlos Almeida, 30 anos, pela Internet e não hesitou em fazer a viagem até à loja Adikt Ink, que fica no Largo Soares dos Reis, em Gaia. "Vi uma imagem de uma fénix parecida com esta na página dele no instagram e disse-lhe que gostava de fazer uma coisa deste género", conta Adriana, que fez a primeira tatuagem aos 18 anos. "Na altura, tatuei uma coisa de que hoje me arrependo. Mas já passou", acrescenta a jovem, determinada e entusiasmada com a nova experiência.
No caso da fénix, que é uma imagem muito grande, Adriana não pôde fazer tudo de uma vez só. "Comecei no início de fevereiro, porque esta é uma tatuagem grande, é para se ir fazendo", diz a jovem. Para o tatuador, Carlos Almeida, uma das características que mais distingue a arte de saber fazer tatuagens é a capacidade para o improviso. É que, "mesmo que haja um desenho e uma ideia prévia", no momento em que está a ser feita a tatuagem "há sempre alguma coisa que acaba por ficar melhor se for alterada". Entre o papel e o corpo humano vai uma diferença gigantesca. Por isso, é tão importante que haja um "trabalho de adaptação".
Além disso, cada artista tem a sua marca pessoal. E Carlos, apesar de estar mais habituado "a trabalhos de geometria de autor", superou as expectativas de Adriana: "Queria muito fazer esta tatuagem e correu muito bem".
DADOS
Mais de 200 tatuadores
Conhecido por juntar tatuadores de todo o Mundo no mesmo lugar, o Oporto Tattoo conta, este ano, com cerca de 250 profissionais, que vão atrair a atenção dos visitantes.
Preço mínimo ronda os 50 euros
No Porto, o preço mínimo de uma tatuagem ronda, em média, os 50 euros. E, no caso de serem trabalhos maiores ou mais elaborados, o valor pode chegar, em algumas lojas, aos mil euros.
Bilhete solidário
Os bilhetes para o Oporto Tattoo têm um custo de 7,5 euros/pessoa em cada dia. Parte deste montante será doado à Cruz Vermelha de Gondomar.