Está lançada a revolta entre os empresários de Ovar. O Governo emitiu, esta segunda-feira, um despacho permitindo que oito empresas do concelho, que até aqui estavam proibidas de laborar devido ao Estado de Calamidade, pudessem retomar o funcionamento. Os empresários que ficaram de fora dizem que se trata de um despacho "por encomenda" apelidando a iniciativa de "vergonhosa".
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No passado dia 2 de abril, o Governo prorrogou a situação de calamidade e a cerca sanitária no concelho de Ovar, na sequência da pandemia COVID-19, permitindo que apenas as empresas de bens essenciais continuassem a funcionar.
Agora, emitiu um novo despacho com uma lista de oito empresas que não estavam abrangidas pela anterior decisão, mas que passam, também elas, a poder retomar o normal funcionamento.
Estas exceções são justificadas pelo Governo. "É possível identificar desde já um conjunto de empresas cujo funcionamento é essencial à laboração das empresas que, por sua vez, produzem bens essenciais à vida coletiva", "tais como as que produzem materiais utilizados para a atividade agrícola ou partes e componentes de produtos elétricos e industriais".
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Adianta o despacho que era necessário fazer o reconhecimento destas empresas, "uma vez que a interrupção da sua atividade é suscetível de impactar fortemente o funcionamento da vida comum.
Contudo, estas justificações não convencem muitos dos empresários de Ovar. Henrique Ferreira, um dos que aceitou dar o seu testemunho, não poupa nas críticas.
"Trata-se de um decreto à medida, para empresas que precisam de favores para a sua exploração, ou alguém que precisa de favores políticos", acusa.
O empresário da "Desistart Group" dá um exemplo: "Não se compreende, por exemplo, que a empresa Cordex possa funcionar e a Exporplás ou a Lusotufo não possam. São ambas empresas de produção maioritariamente de fios", referiu.
"Isto é uma autêntica vergonha. É um decreto feito à medida e cuja responsabilidade é apenas do Governo".
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Henrique Ferreira diz que as empresas de Ovar "estão a afundar-se" e que têm sido alvo de medidas "discriminatórias". "Já estávamos a ser alvo de descriminação em relação às empresas do resto do país, mas agora somos também descriminados dentro do próprio concelho".
"Ninguém percebe a justificação deste despacho que é da responsabilidade total do Governo, já que o presidente da Câmara tem dito que dá apenas sugestões".
O presidente da câmara, Salvador Malheiro, esclareceu que esta foi uma "responsabilidade do Ministro da Economia" e que "tem que haver justiça para todos".
"Os nossos pequenos empresários, as nossas pequenas indústrias que trabalhem nos mesmos ramos de atividade têm que ter o direito de laborarem também", adiantou o autarca ressalvando, no entanto, que não se pode "pôr em causa a saúde pública para querer dar um sinal de vitalidade da nossa economia. Temos que cumprir escrupulosamente com as regras de condições de trabalho e sanitárias", lembrou.
As 8 Empresas autorizadas a laborar
Alcobre - Condutores Eléctricos, S. A.; Bi-Silque - Produtos de Comunicação Visual, S. A.; Cordex - Companhia Industrial Têxtil, S. A.; Kirchhoff Automotive Portugal, S. A.; Polipop - Espumas Técnicas, Lda.; Tecnocabel - Componentes Eléctricos, Lda.; Valmet, Lda.; Yazaki Saltano de Ovar - Produtos Eléctricos, Lda.