O maior evento religioso de Guimarães é também um momento para reunir a família e os amigos à volta da mesa. Há grupos que montam acampamento no dia anterior.
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Quando a imagem de Nossa Senhora saiu da Colegiada da Oliveira, no Centro Histórico de Guimarães, este domingo, às 8.15 horas, na Penha já havia muita gente a marcar mesas, a estender mantas e a esticar oleados para garantir o espaço para a refeição, em família ou com amigos, que prolonga a festa religiosa para a tarde e, por vezes, até à noite. Da freguesia de Infantas e do concelho Fafe, veio um grupo de mais de 80 pessoas, com um aparato quase profissional, mas também há pacatos grupos de família. A Grande Peregrinação, que se realiza desde 1893, marca o fim do programa “Verão é na Penha”, que além dos momentos religiosos teve vários espetáculos musicais, entre os quais a atuação do DJ padre Guilherme e o concerto de Sofia Escobar com a Orquestra de Guimarães.
Com domingo de sol e temperatura amena, o terreiro do Santuário da Penha foi pequeno para o mar de gente que este ano participou na missa campal que se seguiu à chegada da imagem de Nossa Senhora, vinda desde a cidade em procissão. Muitas pessoas, mais velhas ou menos amigas de caminhar, subiram pelo teleférico, em carro próprio ou no serviço de vaivém que a Irmandade da Penha contratou com a Guimabus. De tal forma que, quando a fanfarra dos escuteiros, abrindo a procissão, entrou no recinto, parecia já não haver espaço para mais ninguém. A procissão era longa e, até que o andor e bispo auxiliar de Braga, D. Delfim Gomes, chegassem, passaram longos minutos. Foi, porventura, uma das maiores molduras humanas dos últimos anos.
Festa popular
Umas centenas de metros mais abaixo, um grupo de amigos e familiares da freguesia de Infantas e do concelho vizinho de Fafe, alheios à celebração religiosa, preparavam o cenário para o almoço. “As mulheres foram à procissão, nós temos que ter isto tudo preparado para quando elas chegaram”, explicou um dos comensais, enquanto ajudava a esticar um enorme toldo, dos que se vê nas feiras, para garantir que o sol não batesse na grande mesa corrida. Rosa, Maria da Conceição e Custódia não tiveram oportunidade de acompanhar o percurso de Nossa Senhora e só ouviram a missa pelos alto-falantes. “A carne e os enchidos já estão cozidos, agora, é preciso tratar das couves e das batatas. O pessoal vem com fome”, explica Maria da Conceição. No “acampamento” deste grupo, há máquina de finos e vários barris de cerveja, arca frigorífica “cheia de vinho branco fresquinho”, máquina de café, colunas de som e dois geradores elétricos. “Para o caso de um não aguentar entra o outro”, explica o senhor Francisco, uma espécie de chefe informal do grupo. “Começamos a montar tudo ontem à tarde e, para ninguém roubar nada, vim cá dormir com a patroa”, conta.
A Grande Peregrinação à Penha é, além de uma manifestação de devoção religiosa, desde sempre, uma festa popular. Por isso, a Irmandade programou, a partir das 15 horas, no largo da Comissão, a atuação do Rancho Folclórico de São Torcato e uma tarde dançante ao som da música popular de José Fernandes e Andreia Rodrigues. Encerrou assim o programa “Verão é na Penha”, com um cartaz variado, que foi da música eletrónica à clássica, e atraiu novos públicos para a estância. Foi a dar um passo de dança que alguns dos peregrinos do grupo de Infantas /Fafe abriram o apetite para a refeição da noite, uma massa à lavrador. “Para dar força para desmontar a tenda, até para o ano”, promete o senhor Francisco.