Pandemia provocou escassez no mercado. Constante confinamento de operários da construção contribui para derrapagem de vários meses no prazo das empreitadas.
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A escassez de matérias-primas como vidro, alumínio, ferro e cobre, assim como a falta de operários da construção por causa da pandemia, está a causar atrasos em diversas obras públicas do Grande Porto. A reabertura do Cinema Batalha, por exemplo, que estava prevista para fevereiro, só acontecerá em setembro.
Porto
Lousas e vidros importados
No caso do Porto, as obras que mais sofreram foram a requalificação da Rua de Serralves e da Avenida Fernão de Magalhães. Esta última esteve mesmo parada por várias vezes e, sabe-se agora, devido à falta de materiais mas também ao isolamento profilático de vários elementos da equipa. Seja como for, explicou ao JN fonte da autarquia de Rui Moreira, "ambas as empreitadas estão concluídas".
Também o restauro do Bolhão está a chegar ao fim e a falta de mão de obra é constante devido à pandemia, que "alterou o ritmo de tudo". Assim como a falta de matéria-prima. Aqui, foi a escassez de lousa para o telhado que condicionou o andamento dos trabalhos. A reabertura do mercado mantém-se para o final do segundo trimestre. Também o Terminal Intermodal de Campanhã, praticamente construído e pronto a inaugurar (será no final do primeiro trimestre), ressente-se com a falta de trabalhadores e materiais, sempre os mesmos e que envolvem janelas e estruturas metálicas, assim como componentes eletrónicos.
É, contudo, a requalificação do Cinema Batalha que gera maior preocupação à Autarquia, ao ponto de a vice-presidente da empresa municipal Go Porto, Cátia Meirinhos, vir a público justificar o porquê da reabertura ser adiada para setembro. Aqui é de facto o vidro o grande problema e, tal como as lousas do Bolhão, teve de ser importado pelo facto de as vidreiras portuguesas não conseguirem dar resposta, por muitas delas terem declarado falência.
Gaia
Faltam granitos e colunas de iluminação
Também em Gaia, na intervenção em arruamentos, há falta de granitos, artefactos de betão e colunas de iluminação pública, o que está a gerar atrasos. Na construção de edifícios há dificuldade para encontrar ferro, alumínio, vidro e até chapa de cobertura. Ao mesmo tempo, o aumento do preço dos combustíveis agrava os custos das obras. "Os preços das empreitadas em curso foram estabelecidos há dois ou três anos, na altura da abertura dos concursos, e com o enorme aumento dos preços das matérias-primas, não sendo possível haver uma revisão, os empreiteiros, entre terem prejuízo e abdicarem da obra, escolheram a segunda opção", diz a Câmara.
A Go Porto acrescenta: "Sempre que se tenta adjudicar, e aceitando preços extremamente elevados, os fornecedores recuam e não formalizam contrato". Atualmente, subempreiteiros e fornecedores "não garantem entregas, nem prazos, nem preço".
Matosinhos
Tubagens e madeira para passadiços
Conseguir tubagens em PVC, madeira para passadiços, tubagens de ferro fundido, aço para betão armado e todos os derivados de granito é um problema em Matosinhos, onde se verificam atrasos em obras como a reabilitação dos bairros dos Pescadores, da Biquinha e de Carcavelos, na obra de prolongamento da Avenida Edson Magalhães, na ligação da A28 à Petrogal, no Corredor Verde do Leça e na requalificação da Orla Costeira (passadiços). Os atrasos "são em termos médios de cerca de três a seis meses", informa a Autarquia.
Gondomar
Pedido para adiar início da obra
Em Gondomar, as obras têm tido uma derrapagem superior a 50%, explica a Câmara, que dá o exemplo da requalificação das piscinas municipais de Rio Tinto, que teve início em janeiro de 2021 com fim previsto para maio desse ano e que ainda não terminou. Outras, depois de vários concursos desertos, são finalmente adjudicadas mas a empreitada não começa, como acontece no Parque Urbano de Fânzeres (2.ª fase). Foi adjudicado em junho de 2021, recebeu o visto do Tribunal de Contas em setembro, contudo o empreiteiro ainda não começou a obra e pediu para a iniciar só em março.
DETALHES
Industriais
O presidente da AICCOPN-Associação dos Industriais da Construção Civil e Obras Públicas mostra preocupação. Manuel Reis Campos refere a anómala subida dos preços das matérias-primas e da energia, notando também a falta de 80 mil trabalhadores no setor.
Trabalhadores
O Sindicato da Construção de Portugal acusa a AICCOPN de assinar um contrato coletivo que fomenta a emigração. Albano Ribeiro, da direção, dá o exemplo de um engenheiro civil, que em Portugal ganha 960 euros/mês enquanto em Espanha o salário é de 4500 euros.