Os trabalhadores da Misericórdia de Gaia estão em greve nesta quarta-feira por aumentos salariais. Foram promovidas concentrações de protesto junto ao Lar Almeida da Costa e à sede da instituição.
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Os profissionais exigem o aumento dos ordenados que, de um modo geral, pouco ultrapassam o salário mínimo. "Queremos que nos paguem melhores salários, que nós trabalhamos muito e eles são uma miséria. Não temos tempo para cuidar dos utentes, porque não temos pessoal", reclama Isabel Cardoso, ajudante de ação direta no Lar Almeida da Costa há 37 anos.
Os contestatários demandam também a contratação de novos trabalhadores, sem recurso a empresas de trabalho temporário ou prestadoras de serviços, para preencher os quadros nas diversas secções, perante o aumento do número de utentes e a redução do pessoal, que leva a "um ritmo de trabalho muito intenso". "Aumentaram muito os utentes e as pessoas [funcionários] foram indo embora com a reforma. O que agravou mesmo a situação foi a entrada de utentes cada vez mais em cadeiras de rodas, com demência", aponta Isabel Cardoso. "Os poucos trabalhadores contratados podem ter a formação, mas não têm a prática", acrescenta.
Entre as reivindicações estão também a atualização das diuturnidades, que não acontece há mais de dez anos, a estabilidade nos horários, a redução da carga laboral para 35 horas semanais, no máximo, e a melhoria da qualidade da alimentação, tanto para os trabalhadores, como para os utentes.
O grupo de trabalhadores concentrou-se, pelas 8 horas, à porta do Lar Almeida da Costa. No local estiveram funcionários deste equipamento social e de mais dois ao encargo da Misericórdia de Gaia (Lar Salvador Brandão e Lar José Tavares Bastos). Os trabalhadores aprovaram uma moção e, a seguir, deslocaram-se até à sede da Misericórdia, onde o documento foi entregue pelas 9.30 horas. "Fomos entregar a moção ao provedor, mas, como não estava, entregámos ao mesário", explicou Isabel Cardoso.
Segundo Francisco Figueiredo, presidente do Sindicato da Indústria de Hotelaria, Turismo, Restaurantes e Similares do Norte, houve uma "grande adesão à greve", para reivindicar a "melhoraria das condições de trabalho, para que os utentes sejam servidos e tratados com dignidade". O sindicalista denunciou ainda que "a Misericórdia substituiu trabalhadores em greve, um direito fundamental dos profissionais".
"Fomos recebidos pela mesa administrativa e pedimos uma nova reunião, mas desde já ficou claro que vamos apresentar uma queixa-crime porque não podem ser contratados estagiários ou prestadores de serviço para substituir as pessoas em greve". Segundo Francisco Figueiredo, o mesmo sucedeu em maio de 2023: "A instituição foi condenada no tribunal por violação do direito de greve. É inaceitável que agora voltem novamente a substituir os grevistas. Temos serviços mínimos garantidos, portanto, não havia necessidade".
A Misericórdia de Gaia reagiu em comunicado, sublinhando que em deliberação de 11 de janeiro passado atualizou as remunerações das categorias profissionais relativas aos níveis 9 a 18, "ainda que, até à data, não tenha sido publicada a nova tabela salarial". As atualizações salariais das restantes categorias estão a ser preparadas, enquanto o valor das diuturnidades passou para 25 euros desde maio do ano passado.
Garantindo que cumpre toda a legislação em vigor, a Misericórdia de Gaia sublinha que "todos os colaboradores são admitidos sem termo, contrariamente à prática generalizada atual no mercado, com exceção de contratações a termo para substituição de ausências programadas e temporárias".
"Quanto à conciliação da atividade profissional com a vida pessoal e familiar, a Misericórdia de Gaia tem estado de forma permanente disponível para acolher todos os pedidos dos colaboradores apresentados nesse sentido, pese embora o impacto que os mesmos têm, quer na organização das escalas de serviço, quer na distribuição do trabalho das equipas, naturalmente coloca uma pressão acrescida no desenvolvimento regular dos serviços. E cumpre-nos recordar que os horários coletivos, na sua esmagadora maioria, vigoram desde 2007, demonstrativo da estabilidade que procuramos promover na insituição", acrescenta o comunicado.
A Misericórdia sublinha, também, que tem implementado melhorias através da monitorização mensal da qualidade das refeições e que está em curso a obra de requalificação do Lar Salvador Brandão.
T"em sido postura da Mesa Administrativa da Misericórdia de Gaia a abertura para um diálogo aberto, franco e leal com os representantes sindicais, como aconteceu ainda muito recentemente, à semelhança do que se tem feito ao longo dos anos, para que apresentem as suas preocupações", conclui o comunicado.