Gondomar quer recuperar o edifício na Foz de Sousa. Município do Porto, proprietário, negocia cedência com Águas do Douro e Paiva.
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Para quem mora na Rua das Águas, na Foz do Sousa, em Gondomar, a antiga central de captação de água traz memórias do tempo em que o edifício, abandonado há décadas, foi ponto de atração, nem sempre pelos melhores motivos. "Entravam para ver e acabaram por roubar tudo. Só depois de estar tudo vazio é que decidiram fechar o edifício", lamenta Papiniano Silva, de 64 anos, recordando "as turbinas enormes" cujo peso não impediu que também desaparecessem.
O edifício, classificado como Monumento de Interesse Público pela Direção-Geral do Património Cultural, tem todas as janelas e portas vedadas com chapas e cadeados. A fachada revela o elevado estado de degradação da central, desativada há 36 anos.
Os dois imóveis do outro lado da estrada, onde eram os escritórios e a central de energia, permanecem à mercê de quem lá quiser entrar. Estão ligados por uma passagem pedonal sobre a rua.
A Câmara de Gondomar já mostrou interesse em recuperar o imóvel, aprovando em Assembleia Municipal uma proposta, apresentada pelo PS, para que naquele edifício se instale um centro interpretativo. Para o efeito, será necessário chegar a um acordo com a Câmara do Porto, já que a proprietária é a Águas do Porto. O protocolo "está a ser discutido pelas partes envolvidas", informa a Autarquia gondomarense, "tendo por fim a recuperação e aproveitamento do edifício". O Município dá ainda nota de que o processo ainda agora arrancou, já que é necessário passar "por fases de discussão, deliberação e, por fim, aprovação". "Será divulgado assim que estiver finalizado", conclui.
Esclarecimentos do Porto
Por sua vez, a Câmara do Porto afirma que a eventual cedência do edifício está a ser negociada com a Águas do Douro e Paiva. Apesar de ter havido "algumas conversas exploratórias por parte da Câmara de Gondomar no passado com vista à cedência do edifício, não existe nenhuma formalização para o efeito", acrescenta. A Autarquia portuense diz ainda desconhecer o referido projeto de um centro interpretativo.
Sugestões dos moradores
Entre os moradores, a vontade em ver a antiga central recuperada é grande. As sugestões para os serviços que o interior do edifício pode receber são várias: museu, viveiro de lampreia, restaurante ou um supermercado. Esta última é a mais consensual.
Há ainda quem sugira, como é o caso de Rosalina Silva, de 75 anos, a utilização dos antigos escritórios para construir um jardim de infância para as crianças da zona. A gondomarense mora na Rua do Tronco, a poucos metros da central.
Construída em 1886, a antiga central permitia a captação e distribuição de água ao domicílio e conferia ao Porto a exclusividade de utilização das águas dos rios Sousa e Ferreira.
A fragilidade do edifício em tempo de cheias obrigou a obras de beneficiação em finais dos anos 20 do século passado. Até que a inauguração da "Central Elevatória de Lever", em 1985, levou à sua desativação.