Sente-se o deslumbramento e a enorme paixão sempre que Américo Pinto fala da cervejaria que conhece desde os 14 anos, quando chegou ao Porto para trabalhar, vindo de Queimada, no agrícola concelho de Armamar. Acabou por adquirir a Gazela, junto à Praça da Batalha, em 1981 e desde então a sua vida tem sido uma roda viva. O estabelecimento está a comemorar 60 anos de existência.
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Anthony Bourdain gravou ali há cinco anos um dos episódios da série televisiva "Parts unknown", emitido na CNN e no 24Kitchen, e a cervejaria ganhou fama mundial ao ponto de ter estado em 2019 no Top 5 dos World Restaurant Awards.
"Mas sempre tivemos muitos clientes. Nos anos 70 e 80 aconteciam aqui verdadeiras tertúlias e hoje tenho clientes de todas as idades, alguns desde o início e outros novos", conta Américo, para quem o sucesso reside "muito da empatia" que tem com quem entra na casa logo no início da Rua de Cimo de Vila. "A casa é muito a minha imagem e a forma como trato os clientes".
O interior pouco ou nada foi alterado desde 1962. "O nome Gazela vem do facto do meu [antigo] patrão gostar de animais africanos", relembra. Em sociedade, Carlos José Barbosa chegou a ter três cervejarias: A Gazela, a Impala e a Corça.
De todas, apenas a primeira resistiu ao tempo e muito graças ao trabalho de Américo. É das suas mãos que sai uma das maiores iguarias da cidade que, garante, "em nada fica atrás da francesinha".
Os "cachorrinhos da Batalha", como são conhecidos, desde sempre foram confecionados na Gazela, mas foi Américo que aprimorou a receita e por vezes o balcão é pequeno e os bancos não chegam para tantos clientes que entram no estabelecimento ao lado do Teatro Nacional de S. João.
As paredes são revestidas com fotografias de visitantes famosos, atores, cantores, futebolistas e políticos. "Não faço distinção e falo com toda a gente". Um mapa do mundo cravado de alfinetes mostra a proveniência dos muitos visitantes.
Em 2019 abriu novo e maior espaço do outro lado da praça, na Rua de Entreparedes. A retoma faz-se sentir. Por dia são servidos mil cachorros e em ambas as casas estão sempre disponíveis mil litros de cerveja.
Na confeção da iguaria Américo conta com "produtos de grande qualidade". A começar pelo pão que compra sempre no mesmo fornecedor. Depois entra a salsicha fresca, a linguiça, a manteiga, o queijo e o molho picante. "E o segredo! Que não conto a ninguém", diz. Alguns empregados sabem a receita. Mas "dizem que, quase por magia, quando fazem em casa fica diferente". Curiosamente, não são os filhos mas a nora e o genro que seguem as pisadas de Américo que, aos 65 anos, garante: "Acho que nunca vou parar".