O jornal satírico francês Charlie Hebdo colocou na capa desta semana os principais políticos franceses dentro de uma cabina semelhante ao Elevador da Glória em pleno descarrilamento, retratando a crise política que se vive em França.
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No elevador, seguem o presidente francês, Emmanuel Macron, o presidente do Senado, Gérard Larcher, o ministro do Interior, Bruno Retailleau, a líder da extrema-direita, Marine Le Pen, e o fundador do partido de esquerda radical França Insubmissa, Jean-Luc Mélenchon.
Com a imagem, onde também se vê um cabo roto e parafusos no ar, lê-se ainda "Débloquons tout" ("Vamos desbloquear tudo!", em tradução livre), numa referência ao movimento "Vamos bloquear tudo", que fez milhares de pessoas saírem à rua, esta quarta-feira, em protesto contra o governo francês. As autoridades anunciaram a mobilização de quase 80 mil agentes em todo o país durante as manifestações, que pretendem bloquear empresas, estradas e universidades. A meio da manhã, já tinham sido detidas pelo menos 200 pessoas.
Débloquons tout !
- Charlie Hebdo (@Charlie_Hebdo_) September 9, 2025
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O gatilho dos protestos foi o projeto de orçamento para 2026, cujo texto previa, entre outra medidas, cortes profundos na despesa pública, incluindo o fim de dois feriados e o congelamento de pensões e salários, num total de 44 mil milhões de euros de poupanças, levando à queda do primeiro-ministro François Bayrou. O presidente francês, Emmanuel Macron, nomeou, na terça-feira, como novo primeiro-ministro o atual ministro da Defesa, Sébastien Lecornu.
O descarrilamento do Elevador da Glória, em Lisboa, na passada quarta-feira, que matou 16 pessoas de várias nacionalidades, incluindo uma cidadã francesa, e feriu outras 22, foi notícia em todo o Mundo. Segundo o primeiro relatório do Gabinete de Prevenção e Investigação de Acidentes com Aeronaves e de Acidentes Ferroviários (GPIAAF), divulgado no sábado, o acidente aconteceu quando "o cabo que unia as duas cabinas cedeu no seu ponto de fixação".
Alvo de ataque terrorista
O Charlie Hebdo, conhecido pela publicação de capas polémicas e satíricas, foi alvo de um ataque terrorista em 2015. Em 7 de janeiro desse ano, 12 pessoas foram mortas e 11 ficaram feridas nos ataques realizados pelos irmãos Kouachi, dois franceses que juraram lealdade à al-Qaeda, durante uma reunião de redação. Entre as vítimas estavam oito membros da redação do jornal: os designers Cabu, Charb, Honoré, Tignous e Wolinski, a psicanalista Elsa Cayat, o economista Bernard Maris e o revisor Mustapha Ourrad. A dupla, que agiu após a publicação de caricaturas do profeta Maomé, foi morta pela polícia na sequência de uma perseguição policial. O ataque levou a que todo o Mundo se unisse com a frase "Je Suis Charlie" ("Eu Sou Charlie", em tradução livre) como apoio à liberdade de expressão.
No ano passado, um tribunal de Paris condenou Peter Cherif a prisão perpétua por crimes de terrorismo relacionados com os ataques contra o jornal satírico. Cherif, de 42 anos, estava a ser julgado por crimes de terrorismo cometidos entre 2011 e 2018, bem como por ter participado no sequestro coletivo de três trabalhadores humanitários franceses no Iémen, em 2011. O juiz concordou em impor uma pena de prisão perpétua e uma medida de segurança adicional de 22 anos, conforme solicitado pelos procuradores, que na véspera apresentaram Cherif como um "jiadista integral" e "pedra angular" destes ataques, que foram cometidos como vingança por alguns desenhos satíricos do Islão.