Em comum têm muitas coisas, mas o facto mais marcante foi a doença. Enfrentaram o cancro da mama, fizeram mastectomia, seguiram em frente. Passadas décadas, estão entre as voluntárias mais antigas que este domingo vão ser homenageadas pelo Núcleo Regional do Norte da Liga Portuguesa contra o Cancro. E são a esperança para muitas mulheres e homens que passam diariamente pelas instalações da Liga no IPO do Porto.
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Carolina Negreiros tem 82 anos e faz voluntariado há 30. É com elevado à-vontade que fala ao JN sobre a doença que lhe bateu à porta aos 52. Por causa do cancro perdeu um seio, mas não fez reconstituição porque na altura surgiram outros problemas a que teve de dar resposta.
Usa prótese. E ri-se ao recordar como foram os primeiros tempos em que pôde aproveitar o verão e a praia. "Eu queria um biquíni", lembra, e um biquíni passou a usar, para espanto das amigas que iam com ela e que não viam no seu peito qualquer sinal de assimetria.
"Não foi do pé para a mão" que aceitou a mudança física. Mas o sentir-se bem com o corpo com que ficou, só com um seio, foi a "chave" para ajudar outras mulheres.
"Um frio tremendo"
O otimismo desta antiga professora de Economia Política terá começado logo após a mastectomia. Quando acordou da operação, "sentia um frio tremendo" e logo umas mãos quentes lhe reconfortaram os ombros, com estas palavras: "Correu bem. Afinal só foi preciso tirar um". Era uma enfermeira a dar-lhe a boa notícia, pois, antes de entrar para o bloco, Carolina não sabia se tinha de extrair os dois seios.
O mesmo sucedeu a Lurdes Cordeiro, hoje com 73 anos de vida e 35 de voluntariado. Transmontana, tal como Carolina, recorda com estima a mulher que a ajudou no período que se seguiu à cirurgia. Era Maria Augusta Amado, fundadora em Portugal do movimento de raiz norte-americana Vencer e Viver.
A organização só tem entre os seus voluntários pessoas que tiveram cancro da mama e trabalha com a Liga no IPO do Porto - onde tem 38 elementos, incluindo um homem - desde 1982.
"Posso lembrar-me como se tivesse acontecido ontem", conta Lurdes a propósito da conversa com a fundadora. "Parei de raciocinar a negro", acrescenta. Três anos depois desse encontro, juntou-se ao Vencer e Viver, que hoje tem em Carolina Negreiros a coordenadora local.
outras semelhanças
Muitas outras semelhanças há entre estas duas mulheres. A bondade, a luz que lhes sai do olhar, a vontade de ajudar outras pessoas. O que mais as marcou, nesta já longa caminhada, foi perceber como serviram de exemplo a outras doentes, incluindo uma jovem estilista que abdicou de fazer a reconstituição mamária.