O mercado do arrendamento no Porto parou. Não faltam casas e não faltam interessados, mas o valor das rendas, inflacionadas pelo "boom" turístico, não baixou e os parcos rendimentos das famílias não chegam para pagar casas T2, a tipologia mais procurada, com rendas a ultrapassar os 850 euros/mês. Já o mercado da venda de imóveis está a crescer, pois, como afirmaram ao JN agentes do setor, fica mais barato pagar a prestação ao banco do que uma renda mensal.
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Fernanda Carvalho tem 67 anos e anda à procura de casa. Viveu sempre com a mãe e um irmão, ambos já falecidos. Após ficar sozinha, o senhorio despejou-a e Fernanda está desde então em casa de um outro familiar que vive numa habitação pequena. "Quero ter o meu espaço mas a verdade é que ando há tanto tempo à procura! Estou cansada de correr ruas, a consultar imobiliárias e não arranjo nada que possa pagar", conta.
A reforma não chega para tudo. Recebe uma pensão de 447 euros. "O que vale são as limpezas que vou fazendo em casa de umas senhoras", acrescenta. A última casa que viu era um T0+1 em Cedofeita. "Uma casa pequenina, tipo de ilha", e cuja renda eram 400 euros. Antes tinha visitado um T1+1 na Constituição "mas pediam 630 euros por mês". Muitas das casas estão degradadas. "Acho um insulto terem imóveis daqueles para arrendamento. Outros são minúsculos porque antes eram alojamento local. Casas com 40 metros quadrados ou menos. Nada como apregoam nas imobiliárias", explica Fernanda, angustiada.
famílias procuram ajuda
A Associação dos Inquilinos do Norte recebe 60 famílias por semana. Pessoas já não em situação de desespero e em risco de despejo, como acontecia antes da pandemia, mas que têm dificuldades em encontrar casa no mercado de arrendamento. "Falta de casas não há, porque muitos proprietários que tinham alojamento local agora estão a arrendar porque não têm turistas. Fazem é contratos de apenas um ano com a esperança que a pandemia termine e se volte à normalidade que existia", explica Laurinda Ribeiro, uma das quatro advogadas que fazem o atendimento na associação.
"Outro dos problemas é que muitas destas casas, em resultado da renovação urbana direcionada para o turismo, não foram feitas a pensar nas famílias. Trata-se de T0, T1 e T2 com áreas muito pequenas. E por um T1 pedem 600 a 650 euros", acrescenta a responsável. Percorrer os anúncios nos sites das agências confirma que os preços continuam inflacionados.
Um T1, no Pólo Universitário, também visitado por Fernanda Carvalho, e que resultou da transformação de uma garagem em apartamento para estudantes, tem uma renda mensal de 750 euros. Mas a mesma tipologia na Sé sobe para os 975 euros e no caso de casas maiores os montantes rondam os 1200 e os 1300 euros.
Claro que tudo depende da zona da cidade e da área de cada apartamento. Mesmo assim, pedem por um T2 com 63 metros quadrados, na zona da Arca d"Água, 850 euros.
"As rendas desceram um pouco mas não em proporção com o rendimento das famílias. E daí este impasse no mercado", explica a agente Maria Cardoso Rocha. Quem pode recorrer ao crédito bancário procura alternativa que, segundo Rui Pena, que trabalha noutra imobiliária, "é comprar porque fica mais barato pagar a mensalidade ao banco e garantir no futuro a propriedade da casa".