"Estava a almoçar num dia de março do ano passado quando vi uma reportagem na televisão. Um rapaz que dizia que perdeu tudo, só lhe faltava perder a vida".
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O rapaz é Amin Hashem, perdeu a casa e a cidade onde vivia, na zona de Ghouta Oriental, graças à guerra na Síria. Ao ouvir o relato debaixo de bombardeamentos, Cláudia Proença, professora em S. João da Madeira, não conseguiu ficar indiferente e tem vindo a ajudar Amin desde então. "Não o vou abandonar".
Cláudia procurou Amin no Facebook e perguntou-lhe como podia ajudar. "Ele não queria aceitar. Insisti, aquele rapaz estava há anos a viver numa zona de guerra. Não posso ajudar todos, mas era uma pessoa visível, um rosto da guerra". Amin e nove famílias estavam escondidos numa cave, "a morrer à fome". A professora conseguiu enviar 800 euros e assim começou a história que a uniu ao jovem de 23 anos.
"Estou habituada a enviar dinheiro para a Síria, estou envolvida em causas humanitárias há anos", explica a docente, que é coordenadora do projeto Escola Amiga dos Direitos Humanos na escola Serafim Leite. "Isto está a acontecer à frente dos nossos olhos, não podemos fazer de conta que não vemos".
Cláudia fala com ele todos os dias pelo Facebook - Amin aprendeu inglês sozinho. Através da página "Juntos Pelo Amin - Juntos pela Síria", várias doações permitiram angariar o suficiente para o jovem atravessar a fronteira para a Turquia. Conseguiu, em julho. "Teve de caminhar 8 horas nas montanhas. Quando chegou à Turquia, choramos os dois".
Amin escapou à guerra, mas continua em risco. Quer vir para Portugal, só que está retido por não ter conseguido a documentação de refugiado e pode ser deportado para a Síria. "Se ele voltar para a Síria, é morto", diz. A conta da professora está com saldo negativo de 700 euros. "Continuo a enviar-lhe dinheiro para pagar o quarto e comida. Já enviei cerca de 11 mil euros. Sei que lhe salvei a vida. É como um filho para mim".