Como se não chegasse haver mais de 30% de crianças com excesso de peso e 12% destas obesas, o estudo efectuado em escola do 1º ciclo de Aveiro acrescenta que 40% das mais pesadas já sofrem de hipertensão.
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Cerca de 40% das crianças com excesso de peso detectadas num estudo efectuado em 13 escolas do 1º ciclo de Aveiro já sofriam de hipertensão. Um em cada quatro tinham colesterol elevado e 8% podem vir a tornar-se diabéticos se o peso não for corrigido.
Os primeiros dados do estudo efectuado pelo Serviço de Endocrinologia do Hospital Infante D. Pedro, Centro de Saúde de Aveiro e Faculdade de Ciências, Nutrição e Alimentação da Universidade do Porto, iniciado em 2006, revelaram que 31,2% dos 920 alunos tinham peso a mais e 12% eram obesos.
Os responsáveis pelo trabalho estão a concluir o tratamento de dados. Para trás ficou o trabalho de campo em 13 escolas do município. Seguiu-se uma segunda fase que passou por convocar as crianças com maior potencial de risco e que não estavam a ser acompanhadas medicamente, cerca de 120, para uma consulta no hospital, "para saber se existia algum problema associado ao excesso de peso", refere Carla Pedrosa, nutricionista e uma das responsáveis pelo estudo.
Dos 120 convocados, apareceram 86, dos quais 40 continuam a ser medicamente acompanhados. Os restantes tiveram "alta" no espaço de um ano e meio. "Deixaram de ter excesso de peso graças à alteração de hábitos alimentares e à pratica regular de exercício físico. Significa isto que na origem do excesso de peso estão hábitos alimentares e não questões genéticas, como alguns pais afirmam numa tentativa de se desculpabilizarem", conclui Carla Pedrosa.
Os problemas associados ao excesso de peso que foram detectadas nas 86 crianças são "preocupantes", refere a nutricionista. "Cerca de 40% tinham hipertensão, um percentagem anormal para crianças tão jovens. Quase 25% apresentaram colesterol elevado e 6 a 8% tinham resistência à insulina, ou seja, com fortes possibilidades de se tornarem diabéticos se o peso não for corrigido".
Corrigir o peso é fundamental nestas idades porque "a maior parte das crianças obesas vão ser adultos obesos, com todos os problemas que isso acarreta, nomeadamente a maior probabilidade de virem a antecipar lesões vasculares, por exemplo", frisa.
Os dados recolhidos permitem concluir que não há grandes diferenças entre rapazes e raparigas. E não existem alterações entre as escolas citadinas e as que estão inseridas num meio mais rural.
Na origem deste problema infantil está a modificação drástica do estilo de vida. "Pelo urbanismo, que não deixa espaços para as crianças brincarem, pela insegurança e pela falta de hábitos desportivos dos pais, muitas crianças apenas fazem exercício na escola. Não chega. É preciso que os pais, ao final do dia, ou no fim de semana, andem na rua com os filhos, a pé ou de bicicleta, o importante é não ficarem parados em casa a ver televisão ou jogar computador", aconselha a médica.
No contacto com os médicos, os familiares estão a ser ajudados a corrigir os hábitos alimentares. Na análise efectuada às 920 crianças foi possível apurar que, "pelo menos um dos pais, tem igualmente excesso de peso", revela a responsável pelo estudo. Um dado que acentua a necessidade de uma aprendizagem familiar.