História da Secundária João Gonçalves Zarco, em Matosinhos, é contada por peças que estavam guardadas no sótão. Espaço abriu há 17 anos mas ainda é pouco conhecido.
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Quando se encontra num sótão um acervo com milhares de peças, a tentação é exibi-las todas. Não sendo possível, procura-se entre esses pedaços de história aqueles que melhor contam a vida de uma escola que, como tantas outras, começou por se dedicar ao ensino técnico. Por isso, há uma imensa riqueza no museu da Escola Secundária João Gonçalves Zarco, em Matosinhos, criado há 17 anos mas ainda pouco conhecido.
Embora o convite seja dirigido ao público em geral, é na comunidade escolar que reside a maior parcela de visitantes. Não admira, pois o museu expõe a alma de uma escola vanguardista: a primeira de ensino público em todo o país a ter uma equipa federada de voleibol e provavelmente o primeiro local da região Norte a usar um telefax, já então um equipamento de ponta. Em 1999, era uma das mais evoluídas da Europa e, mais recentemente, tornou-se a primeira escola 5G em Portugal.
É preciso olhos atentos para se absorver tanta história, em muito enriquecida pelo facto de a Zarco ter sido uma escola industrial e comercial. Dispersos num espaço dominado pela madeira e pelo vidro, os objetos escondem muitas curiosidades.
Eram mais baixos
Diretor do estabelecimento há 26 anos, José Ramos começa logo por salientar como "é giro ter a noção de que a altura dos alunos, quando o edifício foi construído, era muito menor do que atualmente". Uma alusão feita a propósito do tamanho das secretárias e das cadeiras usadas nos idos anos 60.
Por entre as peças destacam-se, por exemplo, réplicas do farol da Boa Nova e um dominó feitos em torno de CNC (abreviatura de comando numérico computorizado), fusíveis, amperímetros, uma fotocopiadora que funcionava à manivela ou um computador com duas drives de disquetes. Tinteiros de louça, fotolitos, máquinas fotográficas, projetores e material de escritório também fazem parte desta coleção.
Eram tempos em que os rapazes se dedicavam às ciências, à mecânica e à eletricidade. Às jovens estavam destinadas as tarefas de escritório e as artes manuais. "As raparigas, para aprenderem a ser mulheres, tinham de passar por uma formação", recorda José Ramos. Exemplo do ensino de outrora é dado ainda pela sala de aula reproduzida noutra divisão, em que se pode ver como o professor ficava a um nível mais elevado do que os alunos.
O Museu da História da Zarco só pode ser visitado por marcação. Há um segundo núcleo, dominado pela mecânica, em que se destacam dois jogos gigantes. Um deles é um xadrez com peças em metal.
Pormenores
Primeira casa
A Escola Secundária João Gonçalves Zarco foi inaugurada em 1955 com a designação de Escola Industrial e Comercial de Matosinhos. Teve como primeira casa o palacete Visconde de Trevões, onde agora está instalado o Museu da Memória, e transferiu-se para as atuais instalações nos anos 60.
Formação feminina
Era uma típica escola do Estado Novo. Uma das referências ali patentes reside no curso de formação feminina, que passava pela aprendizagem de artes manuais. Por isso, encontramos as rendas de bilros, os bordados, a tecelagem e até um exemplar de tapeçaria que venceu vários prémios internacionais, quer pela técnica utilizada, quer pelos momentos históricos que representa, como os descobrimentos.