Cortejo da Mordomia terá mil mulheres nas ruas de Viana do Castelo. Ouro que levam no corpo vale 72 milhões de euros.
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Cristina Anjos, enfermeira, Vera Cruz, militar da GNR, e Daniela de Carvalho Caneja, operadora de telecomunicações de emergência, vão trocar hoje a farda de trabalho pelo traje típico de Viana do Castelo, para desfilar nas ruas da cidade, perante uma multidão que se apinha para as aplaudir à sua passagem.
São operacionais no dia a dia que, durante algumas horas, despem a profissão, para brilhar no Desfile da Mordomia, um dos mais emblemáticos momentos da Romaria da Senhora d’Agonia, que decorre até dia 22.
Este ano, o desfile vai contar com a participação de mil mulheres, de 11 países, a maioria de Portugal. Mas também de França, Estados Unidos da América, Suíça, Andorra, Luxemburgo, México, Brasil, Canadá e Países Baixos. A mais nova tem 14 anos e a mais velha 84. Vão desfilar com trajes e ouro, próprios, alugados, emprestados ou propriedade da sua família há várias gerações.
A maioria trajará fatos à vianesa da Ribeira Lima (vermelho) e de Terras de Geraz, e de mordoma preto com colete e palmito. E feitas a contas, se cada uma delas levar no corpo, no mínimo um quilo de ouro (há quem leve vários quilos), as mil mordomas farão brilhar no cortejo à volta de 72 milhões de euros em peças de metal precioso [71,65 euros por um grama de ouro de 24 quilates, preço atual segundo a Deco Proteste, a multiplicar por mil].
Tudo pela “chieira”
Tudo pela “chieira” (palavra usada em Viana do Castelo para descrever o sentimento de orgulho e vaidade) de pôr de lado qualquer profissão e sair à rua para mostrar ao Mundo o valor da tradição.
“É muito diferente da parada. Sinto muito orgulho, também gosto muito de ser militar da GNR, mas quando trajo e a descer a avenida, é das coisas que mais me enchem de orgulho”, conta Vera Cruz de 42 anos, militar da GNR há 20, que vestirá o fato à vianesa da Ribeira Lima, típico da sua freguesia, Deão. “É inexplicável. Só conseguimos sorrir e não há palavras”, refere, comentando que desfila desde 2017, também para “dar o exemplo” às filhas Diana e Joana, de 11 e sete anos. “É uma tradição que quero que elas gostem e mantenham”.
Cristina Anjos, de 54 anos, enfermeira na Unidade Local de Saúde do Alto Minho, conta quase tanto tempo de profissão como da Mordomia. “Com nove anos, tive a primeira experiência e quando vim trabalhar, em 1995, um colega que já faleceu e era um aficionado por estas festas foi-me emprestando os fatos das filhas e de familiares. Cheguei a ir com os de lavradeira vermelho e verde”, conta.
Agora, tem fato próprio de Mordoma. Desfila com um lenço que já tem 150 anos, herdado da bisavó. “Sinto-me maravilhosamente bem. É uma sensação inexplicável. Um orgulho”, diz.
Daniela de 43 anos, operadora de telecomunicações do Comando Sub-Regional de Emergência e Proteção Civil do Alto Minho, já desfila desde 2015 e hoje deixará de lado a farta para estrear traje novo de Mordoma [preto] com casaca e vela votiva. Levará ouro seu, da mãe, madrinha e avó.
“Chieira é a palavra ideal para descrever o que se sente a desfilar. É aquele orgulho, aquela vaidade, de ir ali a representar as nossas tradições e identidade”, sublinha.
Pormenores
3000 figurantes
e 34 carros alegóricos participam amanhã, no cortejo histórico etnográfico. O campeão olímpico Iúri Leitão desfila com a namorada
Desfile com sol
A previsão do tempo para hoje, dia do Desfile da Mordomia, indica céu limpo, vento moderado e temperaturas entre os 17°C e 26°C durante o dia.
Mais comboios
Para facilitar as deslocações para Viana do Castelo, a CP disponibiliza mais lugares nos comboios regulares e comboios especiais até 20 de agosto